quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ordet



Já me haviam falado muito deste filme. Falaram-me duma cena em particular, por diversas vezes - cena essa duma elevada grandeza – e a curiosidade ditou que visse o filme.
Ordet ou em português A Palavra é um filme feito de momentos de elevada grandeza. Trata-se duma película dinamarquesa, realizada por Carl Theodor Dreyer. Devo dizer que este filme me fez lembrar imenso de Bergman, quer pela temática, quer pela maneira de filmar, embora tal possa ser dúbio visto que este é o primeiro filme de Dreyer que vi e não vi assim tantos de Bergman.
A Palavra está carregado de tudo o que toca a Humanidade: fé, amor, loucura, ódio, sanidade, vida, morte. E mais do que qualquer outra coisa: medo. Medo esse que só a inocência parece capaz de colmatar.
É um filme que para além de nos relembrar a nossa pequenez, relembra-nos a nossa grandeza. Inventamos a arte, a ciência, a tecnologia, tudo com o fim último de nos eternizarmos. De todos os meios, é, sobretudo, através da arte que tentamos preservar a memória. E o cinema é o maior veículo do eterno. E a cena de que me falavam é, por essa razão, tão especial. Porque só o cinema poderia eternizar algo que, dada a época e o contexto, não tinha forma de permanecer connosco, a não ser através da memória.
O amor e a morte são o centro do filme: quer na alma, quer na carne.
Há uns anos morreu um grande amigo meu. Recordo-me, particularmente, de algo que foi dito na sua despedida: “Este é o dia mais feliz na vida do…” Aquelas palavras ficaram, ecoam como se as estivesse a ouvir agora. De facto, esse momento é inevitável para todos e, desde que nascemos, caminhamos para esse dia. A morte é temida por ser irreversível e por afastar pessoas que se amam. Mas é ela que diviniza a vida. Será, então, o culminar da nossa existência? Se a resposta existe, certamente não estará na palavra.

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