segunda-feira, 26 de setembro de 2011

The Virgin Suicides


A inocência perdida é irrecuperável.
Um dos mais belos registos deste facto irrefutável da vida é o filme dirigido brilhantemente por Sofia Coppola, numa estreia como realizadora que ficou para a história. Depois desta obra, pode-se dizer que o cinema ficou mais rico. Num registo delicado, mas incisivo, Sofia filma a vida de cinco irmãs que percebem demasiado cedo as desesperantes verdades da vida.
É magnífica a sequência da menina de treze anos na cama de hospital, duma lucidez aterradora – clarividência essa que costuma vir com a idade.
O desespero dos pais está lá – dissimulado -, mas está lá, existe, é real. Nos silêncios e trocas de olhar. Na maneira de viver um quotidiano que se repete até à exaustão.
Existem momentos de referência no filme.
Recordo a belíssima sequência em que as irmãs abraçam a árvore, deixando-a à mercê do seu destino, no momento em que a determinação é invadida pela câmara, os olhos do mundo a espiarem o que por ali se passa…
Recordo também que se trata dum universo profundamente feminino de pequenos tudo-nada, de cumplicidade entre meninas-mulher, duma maneira desencantada de olhar, que só os desse clube compreendem.
É revelador que esta história de desencanto seja contada pela voz masculina dum voyeur. O rapaz-homem marcado pelo mundo feminino da janela em frente.
As imagens finais são cortantes na sua claustrofóbica e insuportável verdade.
A juventude e a inocência perdem-se com o tempo, que vai varrendo tudo no seu acutilante e incessante movimento. Esta é a certeza última, que tem apenas um remédio (ou terá mais, conforme tenta explorar Lux?).

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Magnetismo Do Cinema




A minha grande paixão (desde que me lembro) mantém-se inalterada: a sétima arte.
Ainda me lembro do primeiro filme que vi no cinema. Uma das imagens, vívida na minha mente, relembro-a como se fosse hoje: o Tio Patinhas a atirar-se para a sua piscina de cifrões e a nadar no meio do dinheiro. Não me lembro de chorar, quando as luzes se apagaram e ficou tudo às escuras - no momento imediato antes do filme iniciar (conforme os meus pais descrevem). Mas, também segundo eles, esse chorinho só durou até o ecrã se acender. Foi amor à primeira vista e, a partir daí, a paixão propagou-se durante horas e horas de interminável devoção.
Tenho saudades de ir ao cinema, apenas pelo cinema. Tenho saudades de me dirigir até um edifício que é o cinema e não o shopping. Obviamente que adoro a oferta cinematográfica que os shoppings permitem, gosto do conforto das salas e da qualidade com que se consegue desfrutar da película. Mais n’est-ce pas la même chose.
A mais completa das artes merece ovações, merece as melhores obras arquitectónicas para a albergar, merece uma casa de espectáculos à altura da sua grandeza.
Adoro aqueles momentos antes do iniciar do filme em que aguardo que ele se estenda à minha frente, revelando-se a cada segundo.

É indescritível este efeito magnético que o cinema tem em mim: prende-me cada vez mais em cada rendez-vous.