domingo, 18 de dezembro de 2011

The English Patient



Lembro-me perfeitamente de ver o cartaz deste filme em exibição no cinema e de escolher não o ir ver (esta escolha é das decisões que mais lamento e ainda tenho esperança de poder desfrutar esta obra colossal no grande ecrã). Tinha eu, à data, treze anos anos e achava que aquilo seria uma lamechice pegada. Santa ignorância! The English Patient é, não só, o filme da minha vida, como uma das obras maiores do cinema.
Quer as imagens de infinita beleza, quer a excelência do elenco, quer a magnifica banda sonora, quer a suprema realização, quer o refinado argumento contribuem para fazer desta uma das obras mais memoráveis da sétima arte.

A história passa-se em dois momentos distintos: o que foi e o que é. A memória dá vida a alguns dos momentos mais grandiosos do filme e o dia-a-dia do presente revela-se encantador nos pequenos tudo-nada diários, sendo desses mesmos instantes que nascem os momentos memoráveis.

Frequentemente esquecemo-nos dessa realidade: que são as pequenas insignificâncias no seu conjunto que dão vida a algo maior do que a vida. E é do mais improvável que nasce a intensidade feroz que nos assola e transforma. Deixamos de ser o que éramos outrora para nos tornarmos outro ser, mas sem nos apercebermos dessa mudança. É dessa improbabilidade e desses pequenos momentos que nascem os laços mais fortes e duradouros.

K cede; aliás K procura o perigo. Ou seria inevitabilidade? Porque depois daqueles olhares se cruzarem poderia ser de outra forma? Mas o perigo sufoca, porque os afectos são livres, mas o mundo não é. Porque os afectos são verdadeiros, mas há situações que não podem coexistir (pelo menos não por muito tempo) sob pena de desgastarem tudo o que lhes está associado.
Almasy não gosta de pertenças (daí a liberdade dos afectos), mal ele sabia que nesse momento já havia algo intrínseco a si próprio; algo que demonstra que a pertença é natural e inevitável, talvez até desejável. É algo que representa a própria liberdade suprema do motivo que lhe dá origem. É algo incontornável porque "the heart is an organ of fire".


Almasy não compreende, como é compreensível, a atitude de K. Acha, talvez, que isso espelha a ausência do que achava que existia.
“How can you stand there? How can you ever smile as if your life hadn’t capsized?"
-         "Do you think you’re the only one who feels anything? Is that what you think?”

Heródoto – o pai da História – é testemunha daqueles afectos, como o são, tantos outros seres ausentes e, no entanto, tão presentes na vida dos que amam. A música é uma das maiores testemunhas, tendo Almasy o dom de cantar tudo a toda a hora e saber as letras todas de cor.
“Actually you sing. You sing: all the time.” 
“Is there a song you don’t know?”
É também durante uma música particular de título “Where or When” que Almasy parece invadir K com o seu olhar penetrante. E é ao som de “Cheek to Cheek” que acontece uma das melhores cenas da história do cinema.
E os acordes das músicas de Yared testemunham a inesquecível visita à igreja, a materialização do amor no almoço de Natal, o apoteótico percurso com K no colo (no qual ela revela o que Almasy duvidava) ou as vozes de duas actrizes naquele que é o culminar do filme, nessa visão pura e realista do que são os países, os medos, os afectos, a luz, a vida, o palácio dos ventos ou a quimera do encanto entre mar e céu, na linha do horizonte.




"My darling: I'm waiting for you. How long is a day in the dark? Or a week? Fire is gone now, and I'm cold, horribly cold. I really want to drag myself outside but then there'd be the sun. I'm afraid I waste the light on the paintings and on writing these words. We die. We die. We die rich with lovers and tribes, tastes we have swallowed, bodies we have entered and swum up like rivers. Fears we've hidden in - like this wretched cave. I want all this marked on my body. We’re the real countries. Not the boundaries drawn on maps with the names of powerful men. I know you'll come and carry me out into the Palace of Winds. That's all I've wanted: to walk in such a place with you. With friends. An earth without maps. The lamp has gone out and I'm writing in the darkness."

É de afectos que somos feitos: é por eles e para eles que vivemos.
E em última instância: haverá outro sentido para tudo a não ser esse?


O melhor filme de sempre!

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