terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Beleza Feminina


Há determinados realizadores que têm a capacidade de filmar a mulher duma maneira muito particular. Conseguem enaltecer os traços de cada protagonista feminina e conseguem criar todo um estilo de mulher que associamos de imediato aos filmes desse autor.
Poderia falar de Vadim, Hitchcock, Godard, Truffaut, Tornatore, Antonioni, Fellinni, Bergman; que directa ou indirectamente tinham uma forma peculiar de dar vida ao feminino no grande ecrã. Poderia mencionar tantos outros, mas vou apenas debruçar-me sobre três, do panorama actual, que a meu ver se excedem e se transcendem no acto de filmar este universo.

Começo por Woody Allen: amado por muitos, odiado por outros tantos; uma coisa é certa: Allen tem a capacidade de se debruçar desmesuradamente sobre o universo das relações humanas, particularmente no confronto homem/mulher. As suas protagonistas podem ter personalidades e estilos diversos, mas Allen filma-as com aquilo que parece ser um certo amor pela sua beleza, realçando particularidades de cada uma. Haverá alguém que pense em Mia Farrow ou Diane Keaton e não as imagine de imediato como Allen as filmou? Já nos mais recentes destacam-se Scarlet Johansson, bela por si só, mas que em Match Point é remetida ao patamar dos deuses, ou ainda Penelope Cruz, que (apesar da singularidade da personagem) não parece vulgar em Vicky Cristina Barcelona. Ou ainda tantas outras protagonistas como Rebecca Hall ou Marion Cotillard ou Rachel McAdams, das quais Allen retira da sua simplicidade imagens duma beleza etérea.

Depois, vem o meu preferido: Pedro Almodovar. Embora tenha falado anteriormente de Penelope, devo dizer que não gosto particularmente desta actriz e penso que o único que a filma de forma magistral é Almodovar. Penelope parece ganhar uma nova luz nos filmes deste mestre espanhol, quer em beleza, quer em talento. As suas curvas, as suas formas, a sua voz, o seu sotaque, os seus olhos, os seus lábios, toda ela parece respirar sensualidade nos filmes de Pedro (particularmente na obra-prima Los Abrazos Rotos, que passará esta sexta-feira na RTP2 na sequência do ciclo semanal de cinema dedicado a Almodovar, exibido neste canal). Este mestre espanhol é, a meu ver, a pessoa que mais consegue retirar dos seus actores. Qualquer personagem que Almodovar filma parece-me duma beleza infinita. Quer homens, quer mulheres parece que se revelam no olhar deste cineasta, passando muitos de larva a borboleta, tal é a capacidade de Almodovar sorver o melhor dos seus protagonistas e imagens. No mais recente La Piel Que Habito, Elena Anaya aparece deslumbrante e até mesmo Antonio Banderas parece rejuvenescer. Acho que a capacidade de filmar a beleza e trazer o melhor dos seus actores é uma característica intrinsecamente almodovariana, a qual enriquece as imagens que nos traz de forma soberba.

Por último, vem o mais marcante de todos: David Lynch. O universo de Lynch é muito sui generis e as suas protagonistas também. O realizador consegue captar um certo lado negro e uma beleza dramática de qualquer actriz que passe nas suas mãos. Laura Dern, Isabella Rosselini, Naomi Watts, Patricia Arquette e Laura Helena Harring (o que aconteceu a esta promissora actriz???) metamorfoseiam-se nas mãos de Lynch. Dern é a musa mais querida, aquela que mais povoa o imaginário lynchiano. Watts foi descoberta nesse magnífico e enigmático Mulholland Drive, sendo hoje em dia uma das mais talentosas e camaleónicas actrizes de Hollywood. E, talvez à excepção desta última, sempre que pensamos na beleza duma das outras mulheres, são as imagens de Lynch que nos assaltam.

Filmar é uma arte. Há imagens que marcam e há protagonistas femininas que associaremos de imediato a um determinado estilo de realização, pela notável maneira de memorizar a beleza duma mulher, numa tela para a posteridade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário