domingo, 4 de março de 2012

Shame


Essencialmente este é um filme sobre solidão.
O sexo é o escape do protagonista. Um contacto físico, seja ele qual for, como forma de aplacar a enorme angústia e agitação interior, nem que seja por um único momento.
Fassbender tem aqui um papel notável, depois dum ano em cheio, em que foi um jovem Magneto e um dividido Jung. Já o  haviamos visto anteriormente no papel dum dos aliados em Inglorious Bastards. Mas aqui, Fassbender demonstra toda a sua plenitude e capacidades como actor (embora o seu sorriso incrível não seja tão frequente, como noutros papéis).
O sexo é o tema, a nudez é explícita e a propósito desta ousadia o actor refere numa entrevista aquilo que é também a minha percepção do tema: "metada do mundo tem um pénis e outra metade já viu um", ou seja, como podem os meios sociais estar carregados de violência, como se se digerisse isso ao pequeno-almoço e a simples visão dum pénis ser constrangedora?
Esta indignação relembra-me outro filme marcante de nome The People Vs Larry Flynt, em que numa das cenas Flynt (um brilhante Woody Harrelson) faz uma eloquente demonstração entre o que é mais vil: a violência ou o sexo?
Carey Mulligan acompanha Fassbender em Shame e compõe também aqui uma complexa e brilhante personagem.
Brandon é viciado em sexo e, como tal, tem vergonha. Tem vergonha da sua condição e vício. Sente-se sozinho, alienado do mundo e essa frustração compele-o a fomentar e alimentar essa espiral viciante de busca de contacto físico, na ânsia de colmatar a enorme tristeza interior. Este é, aliás, um dos grandes males da sociedade actual, a busca desenfreada de todo o tipo de prazeres e contactos, como forma de compensação duma certa inquietude interior ou como colmatação da  solidão.
Não é por acaso que Brandon escuta essencialmente música clássica, nomeadamente Bach, num contraste perfeito com a serenidade exterior.
Shame é um filme brutalmente real, um filme para adultos, como há muito não se via um. Esta é uma das maravilhosas capacidades do cinema, expor a realidade nua e crua, sem pudor, nem omissão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário