quinta-feira, 1 de março de 2012

Bruna Surfistinha


Para quem não sabe, este filme é baseado na história verídica de Bruna, uma garota de programa que virou sucesso ao publicar num blog as suas experiências.
O filme é protagonizado por Deborah Secco que consegue captar de forma magistral as angústias e dilemas duma personagem tão complexa como Bruna, aliás Raquel, que é acompanhada desde a partida de casa até ao início duma nova vida, passando por todos os momentos marcantes do seu percurso, desde o topo até ao fundo. O filme é divertido e realista, mas tem algumas cenas bastante pesadas, que nos relembram que a prostituição é um tema delicado e triste, mas existe. Fechar os olhos, virar as costas; é apenas uma maneira de não ter de lidar com o assunto.
Há um momento em que a protagonista, como que se confessando ao espectador, revela que se questiona muitas vezes sobre todas as esposas, o que elas estarão fazendo, a inocência da vida que levam, não imaginando sequer o que se passa, a meio dum dia calmo e banal, com a pessoa com quem dividem a vida, a pessoa em quem mais confiam, a pessoa com quem partilham a intimidade. Essa confissão recordou-me a Séverine de Buñel (com as devidas diferenças), essa Belle De Jour magnificamente interpretada pela grande diva Deneuve.
Os segredos inconfessáveis, guardados no mais fundo da gaveta, repousados tranquilamente, inimaginados pela pessoa mais próxima, levando uma existência desligada da realidade, um mundo de inocência, num universo paralelo de confiança radiante. Desconhecendo que a proximidade é relativa e a intimidade é partilhada com outrém. Uma sociedade que teima em desviar o olhar, porque é mais fácil, mais simples, mais limpo, fingir que não existe.
A inocência perdida é irreversível e a confiança é irrecuperável.

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