segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Hugo
"Depois de em 1995 nos ter levado numa viagem pessoal pelo cinema americano, e de em 1999 o destino ter sido o cinema italiano, Scorsese convida-nos para uma terceira viagem. Desta vez vamos até Paris. E porquê Paris? Porque foi lá que nasceu o Cinema.
O filme abre com uma prodigiosa sequência, que nos faz sobrevoar a cidade-luz, entrar na estação onde decorrerá grande parte da acção, percorrê-la a grande velocidade, e encontrar o protagonista, Hugo Cabret (Asa Butterfield). Hugo tem 12 anos, é órfão, vem de uma família de relojoeiros, tem um talento natural para tudo o que seja mecânico e faz a manutenção de todos os relógios da estação. Hugo vive entre as suas paredes, nos seus lugares mais recônditos, e surge-nos escondido atrás de um dos relógios, observando sem ser observado, atento aos movimentos dos habitantes frequentes (lojistas) e ocasionais (passageiros) da estação. Numa atitude voyeurista que nos revela desde logo o tema principal do filme – o Cinema.
Estamos no início do século XX, no final dos anos 20. A Primeira Guerra Mundial é ainda uma ferida bem aberta. O Cinema é já uma realidade, produziu os seus primeiros heróis. Passaram-se cerca de 30 anos desde a primeira apresentação pública de Cinema, pelos irmãos Lumière. A sala escura tem já os seus primeiros aficionados, os primeiros cinéfilos, e Hugo é um deles. O pai de Hugo (Jude Law) apaixonou-se pela imagem em movimento desde que viu “La Voyage Dans La Lune”, um filme de 1902, do parisiense Georges Méliès. E partilhou com Hugo essa paixão, levando-o frequentemente ao Cinema, fazendo dessa partilha um dos alicerces da sua relação.
O pai de Hugo encontrou, no museu onde trabalhava, um misterioso autómato, um ser mecânico, que levou consigo. Depois da sua morte, Hugo abraça a tarefa que anteriormente partilhava com o pai – reparar o autómato, trazer de novo à vida o ser mecânico, revelar a mensagem que ele esconde. Um dos lojistas da estação, de nome Georges (Ben Kingsley), torna-se o seu maior adversário nessa missão, por razões que Hugo desconhece, apoderando-se de um caderno que contém informação preciosa.
Hugo vai encontrar uma preciosa aliada – Isabelle (Chloë Grace Moretz), também órfã, adoptada por Georges e pela sua mulher Jeanne (Helen McCrory) – que se torna sua companheira de aventuras. Isabelle nunca foi ao Cinema, um mal que Hugo se apressa a remediar. Não podendo comprar um bilhete, Hugo transporta Isabelle, clandestinamente, para a sala onde nascem os sonhos. Harold Lloyd subindo uma torre e pendurando-se nos ponteiros de um relógio, no filme “Safety Last!” (1923), são as primeiras imagens que Isabelle vê numa sala de cinema, fascinada.
Em contrapartida, Isabelle conhece um outro lugar mágico (mistura de “Ilha do Tesouro”, “Oz”, e outros locais fantásticos, nas palavras da própria Isabelle), que vai apresentar a Hugo - a livraria de Monsieur Labisse (Christopher Lee). Isabelle é uma ávida leitora, e Monsieur Labisse é o seu cúmplice.
O mundo de Hugo é pintado com cores frias. Na Paris que ele observa está sempre noite. Os lugares que ele habita são escuros, frios, sujos. É uma paisagem industrial, os fumos das caldeiras e das canalizações são omnipresentes. Hugo move-se entre peças e mecanismos de relógios, com as suas ferramentas. Vive na Paris dos anos 20 do século XX, mas parece ter saído dos livros de Charles Dickens. Pela estação circulam outros órfãos, que trabalham desde muito cedo, mendigam ou roubam, tentando fugir a uma alternativa que se lhes apresenta ainda mais hostil – o orfanato. O inspector da estação, Gustav (Sacha Baron Cohen), também ele crescido num orfanato, persegue impiedosamente as crianças que vagueiam sozinhas, para as entregar a esse destino indesejado. Gustav é uma ameaça constante para Hugo.
A estação que Hugo observa, escondido atrás dos mostradores dos relógios é, em contrapartida, pintada com cores quentes. Os passageiros circulam, apressados e indiferentes. Os lojistas, como a florista Lisette (Emily Mortimer), vivem preguiçosamente a sua rotina, entediados, entre baguettes, croissants, flores, um fumo que não é de caldeiras, e sim de cigarros, mas continua presente, e pequenos romances que timidamente os desviam dos gestos repetidos todos os dias.
E é neste universo, e através destas personagens, que assistimos a uma das mais belas homenagens alguma vez feitas ao Cinema. É sobretudo de Cinema que se fala neste filme, desde a já referida primeira sequência (que cita “Goodfellas”, um filme de Scorsese de 1990), até ao seu último segundo.
Georges folheia rapidamente o caderno que contém instruções sobre o autómato, e os desenhos inscritos nas suas páginas ganham vida. E nós assistimos à ilusão da imagem em movimento, tal como criada na era pré-Lumière. Somos também conduzidos até ao salão do Grand Café de Paris, para fazermos parte de uma das primeiras sessões públicas de Cinema, e vermos como o público reagiu assustado ao ver no écran o comboio que chega à estação de La Ciotat. São-nos apresentados excertos de filmes de Charlie Chaplin e Buster Keaton. Hugo pendura-se nos ponteiros do relógio da estação, imitando o que viu Harold Lloyd fazer, quando sorrateiramente entrou com Isabelle na sala de Cinema. E assim se homenageiam os pioneiros da Sétima Arte, e se introduz a figura central deste filme, o primeiro grande cineasta – Georges Méliès.
Scorsese disse, em entrevista de promoção, que tudo o que é feito agora em Cinema, já Méliès fez antes. E o tributo é-lhe prestado neste “Hugo”, em que percorremos a sua história pessoal, incluindo o seu passado como mágico e a sua descoberta do Cinema, a sua obra, o seu estúdio (que foi reconstituído para este filme), os seus métodos e ilusões (podemos ver Méliès a filmar e a montar as suas películas). E também a forma como começou a conquistar o coração e a imaginação das primeiras pessoas que viram filmes, como deu origem aos primeiros cinéfilos.
A segunda figura central neste filme é o cinéfilo, personificado principalmente (embora não exclusivamente) por René Tabard (Michael Stuhlbarg). René Tabard é um estudioso da obra de Méliès, por quem foi conquistado em criança, altura em que o viu em acção no seu estúdio e assistiu aos seus filmes. A sua paixão torna-o no guardião de objectos, filmes e da memória do seu adorado realizador, mesmo quando, após a Primeira Guerra Mundial, todos já o esqueceram. E, depois do seu encontro com Hugo e Isabelle lhe trazer novas informações sobre Méliès, irá encontrar e restaurar mais filmes. E exibi-los, trazê-los de novo para as salas, resgatá-los a um destino de esquecimento que parecia inevitável. E, inevitavelmente, lembramo-nos do próprio trabalho, incansável e apaixonado, de Scorsese na descoberta, recuperação, e divulgação de velhas películas. Scorsese aparece-nos, ele mesmo, no filme, por breves instantes, como fotógrafo. Mas Scorsese, neste filme, é René Tabard.
O Cinema aparece-nos também neste “Hugo” enquanto tecnologia e enquanto tempo. Os mecanismos das máquinas que filmam e que projectam, criando a ilusão da imagem em movimento, são-nos explicitamente mostrados, e misturam-se com os dos relógios e do autómato. Os dispositivos mecânicos e os relógios são uma presença constante neste filme. E tornam omnipresente esta ideia de mecanismo e de movimento perpétuo e de tempo. Tempo e movimento, que são duas outras características do Cinema.
E o Cinema como magia e emoção. O Cinema como ilusão, em que imagens fixas parecem estar em movimento. O passado de Méliès como mágico e o presente de Hugo com os seus truques de cartas. A emoção que o Cinema provoca em quem o vê. A experiência de assistir a um filme numa sala de Cinema é justamente exaltada na cena em que Hugo e Isabelle penetram naquele mundo mágico para ver Harold Lloyd.
E, finalmente, a literatura como inspiração para os filmes. Na livraria de Monsieur Labisse, personagem interpretada por Christopher Lee, cuja presença neste filme é, por si só, uma referência e homenagem cinéfila, Hugo encontra Robin Hood, e refere ter visto o filme (de 1922, com Douglas Fairbanks). E já antes Isabelle se tinha referido à livraria como um mundo de fantasia, como “Oz” ou “A Ilha do Tesouro”, que foram, mais tarde, adaptados ao Cinema. É um mundo de magia que contagia o outro. E o misterioso autómato tem o poder da escrita, revelando dessa forma alguns dos segredos deste filme.
Mas é só sobre Cinema que Scorsese nos fala com este seu “Hugo”? Não, este filme tem um segundo grande tema. O que é que nos torna humanos, e nos distingue dos autómatos, dos dispositivos mecânicos?
Os adultos que povoam este filme, e que vivem e circulam no exterior da estação, apesar de pintados com cores quentes, são, paradoxalmente, seres tristes. Os lojistas vivem um dia-a-dia de rotinas, de aborrecimento. Vemo-los junto às suas bancas, às suas lojas, mas os passageiros nada compram, não estabelecem contacto com eles. E, apesar da vontade, dos tímidos “flirts”, uma barreira invisível impede-os de comunicar. Os passageiros que circulam na estação são como autómatos.
Numa cena muito importante do filme, Isabelle cai, e as pessoas que circulam continuam a andar, ignorando-a, e quase a pisando, indiferentes e apressados. São controlados pelos omnipresentes relógios, e são eles próprios peças de um mecanismo. Hugo, numa outra cena, diz que vê, por vezes, o mundo como um gigantesco mecanismo de que todos fazemos parte, e em que todos desempenhamos uma função. A Primeira Guerra Mundial terminou há pouco, deixando profundas marcas. O Cinema, recentemente criado, e Méliès, o seu principal artesão, foram já esquecidos por estes autómatos de carne e osso que entram e saem dos comboios. Não há lugar para a magia nas suas vidas.
Tudo é diferente no mundo mais escuro e frio de Hugo e Isabelle. É lá, curiosamente, que sobrevive a magia. Eles comunicam e colaboram, dão as mãos, partilham sonhos e aventuras, perseguem objectivos que vão para além da mera função que lhes está destinada como peças de uma engrenagem. Hugo faz a manutenção dos relógios mas a sua vida não é controlada por eles, repara dispositivos mecânicos mas não é um deles. E o ser mecânico que vive com Hugo, apesar de composto por molas e rodas dentadas, é a sua companhia, de que Hugo desesperadamente necessita (referindo-o explicitamente), apesar de viver numa estação cheia de pessoas. Vemos como o autómato (inspirado por Pinóquio e visualmente inspirado por “Metropolis”?) “olha” para Hugo enquanto ele dorme, como o parece proteger. E o carinho que Hugo lhe devota, arriscando até a sua vida para o salvar dos carris.
Basta ser feito de carne e osso para ser humano? Ser feito de molas e rodas dentadas é o suficiente para não o ser? Este é um tema já tratado, de forma mais profunda, na literatura e no Cinema. O escrito Philip K. dick debruçou-se demoradamente sobre este assunto, e uma adaptação de uma obra sua ao Cinema, pelas mãos de Ridley Scott, resultou no magistral "Blade Runner" (a comemorar em 2012 o seu trigésimo aniversário). Nem "Hugo" nem "Blade Runner" arriscam uma resposta definitiva, mas dão-nos importantes pistas para reflexão. E sugerem uma resposta.
O que pode então tornar mais humanos aqueles autómatos de carne e osso que vivem e circulam na estação? Este “Hugo” sugere-nos que o caminho passa, entre outras coisas, como o amor e a amizade, pela recuperação da memória perdida, pela literatura, pela magia, pela cinefilia. Em resumo, pelo Cinema. E assim temos a ligação entre os dois temas do filme.
“Hugo” surge, curiosamente, em simultâneo com duas outras importantes homenagens aos pioneiros do Cinema, e ao filme mudo – “O Artista” (Michel Hazanavicius, 2011) e “Tabu” (Miguel Gomes, 2012). Apenas uma coincidência? Ou este novo período de transição na história do Cinema, com o fim da película, e todos os desafios que se colocam com os “downloads” gratuitos de filmes, trouxe, consciente ou inconscientemente, a necessidade de recordar as origens?
“A Invenção de Hugo” é um filme belíssimo, com uma fotografia deslumbrante, e uma das melhores utilizações de sempre do 3D. É uma declaração apaixonada dirigida ao Cinema, aos seus pioneiros, a todos os que o fazem hoje, e aos cinéfilos. Endereçada pelo maior cinéfilo de todos, o maior de sempre, o “mestre” Martin Scorsese. Fica ao lado, ou mesmo acima, de “Cinema Paradiso”, como um dos grandes filmes sobre a cinefilia e o próprio Cinema.
Título em português: A Invenção de Hugo
Título original: Hugo
Realização: Martin Scorsese
Produção: Martin Scorsese, Johnny Depp
Argumento: John Logan e Brian Selznick, adaptando o livro “A Invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick.
Elenco: Ben Kingsley (Georges), Asa Butterfield (Hugo), Chloë Grace Moretz (Isabelle), Sacha Baron Cohen (Gustav), Emily Mortimer (Lisette), Christopher Lee (Monsieur Labisse), Helen McCrory (Jeanne), Michael Stuhlbarg (René Tabard), Jude Law (pai de Hugo).
Cinematografia: Robert Richardson
Montagem: Thelma Schoonmaker
Música: Howard Shore
“Hugo” é a vigésima segunda longa-metragem de ficção em quase 70 anos de vida, e 44 de carreira, de Martin Scorsese. Martin Scorsese realizou filmes como “Taxi Driver”, “Raging Bull” e “Goodfellas”.
É a primeira adaptação ao Cinema de um livro de Brian Selznick, que assina também o seu primeiro argumento.
O protagonista Asa Butterfield tem a sua quinta aparição no Cinema, tendo já participado em filmes como “O Rapaz do Pijama às Riscas” e “Nanny McPhee e o Toque de Magia”.
A protagonista Chloë Grace Moretz tem já o seu décimo oitavo papel no Cinema, tendo anteriormente protagonizado a versão americana de “Deixa-me Entrar”.
Sir Ben Kingsley atinge com este filme as 56 participações no Cinema, sendo “Gandhi” o seu momento mais alto. É a segunda colaboração com Martin Scorsese, depois de “Shutter Island”.
Carlos Rui Ribeiro
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Vertigo
Vertigo foi, recentemente, o vencedor da lista organizada pela Sight and Sound (publicação britânica que a cada dez anos reúne inúmeras pessoas de diversas áreas relacionadas com a sétima arte para elegerem os filmes que consideram mais marcantes na história do cinema). Nesse sentido, é uma lista mais de consensos do que propriamente de filmes do coração. Digamos que este foi o filme que mais eleitores mencionaram, destronando assim Citizen Kane de Orson Welles, em primeiro há cinco décadas. Não será então por acaso que a obra foi reposta nas salas de cinema, sob o epíteto de o melhor filme de todos os tempos. Que bom para nós que pudemos ver (ou rever) este filme de referência, na magia do grande ecrã, sobretudo numa época do ano em que sabe tão bem voltar aos clássicos.
Em português chamaram-lhe A Mulher Que Viveu Duas Vezes, título este que é exemplificativo das enormes aberrações que se cometem, por vezes, no campo das traduções cinematográficas, revelando uma enorme falta de imaginação e, eu diria até, uma ofensa ao autor. Note-se que o nome original está intrinsecamente ligado a uma característica duma das personagens (que indirectamente influencia as que o rodeiam) e o título português relega essa personagem para segundo plano, dando relevância a outros acontecimentos (que têm a sua importância, mas não são a razão de ser de todo o enredo).
O Mestre Hitchcock é um realizador dum talento notável, autor de filmes cheios de personalidade. Facilmente se reconhece uma obra sua e pode-se dizer que todas elas - ou mais divertidas ou mais negras - estão repletas de mistério.
Vertigo é um filme que se destaca dos restantes, não por falta de mistério, mas pela maneira como esse mesmo mistério se adensa e é conduzido até à revelação.
Trata-se dum filme de elevada qualidade em que as brilhantes interpretações de James Stewart e Kim Novak sobressaem. Este é, aliás, o papel mais emblemático que Novak desempenhou, envolto num misticismo, derivado sobretudo da sua contenção e do desconforto subjacente à personagem. Já Stewart, igual a si próprio, é aqui um herói em decadência, diminuído por uma limitação e derrubado por uma obsessão.
Vi-o há muitos anos e não me recordava do desfecho. Ao rever, tive o esperado dejá vu e questionei-me como aqueles momentos finais se me apagaram, pois estamos perante um desenlace difícil de esquecer. Possivelmente eclipsei-o da minha memória, por o achar um pouco macabro e com uma certa melancolia subjacente. Esse sabor mantém-se. Reconheço a genialidade do filme e a originalidade deste título no universo de Hitchcock, no entanto, tenho enorme dificuldade em simpatizar com o todo. Vejo uma vez, rendo-me aos encantos de Novak e à amargura de Stewart, mas não é obra que tenha vontade de rever. O final é amargo (ou no mínimo agridoce) e dificilmente alguém sai do cinema com uma sensação animadora. Apesar destes sentimentos, não consigo imaginar outro remate: este assenta que nem uma luva no filme em questão, culminando assim todo o desconforto e morbidez do filme que fecha; mantendo, no fundo, a vívida personalidade do filme e contribuindo para o leque de vertiginosas cenas memoráveis desta obra.
Vi-o há muitos anos e não me recordava do desfecho. Ao rever, tive o esperado dejá vu e questionei-me como aqueles momentos finais se me apagaram, pois estamos perante um desenlace difícil de esquecer. Possivelmente eclipsei-o da minha memória, por o achar um pouco macabro e com uma certa melancolia subjacente. Esse sabor mantém-se. Reconheço a genialidade do filme e a originalidade deste título no universo de Hitchcock, no entanto, tenho enorme dificuldade em simpatizar com o todo. Vejo uma vez, rendo-me aos encantos de Novak e à amargura de Stewart, mas não é obra que tenha vontade de rever. O final é amargo (ou no mínimo agridoce) e dificilmente alguém sai do cinema com uma sensação animadora. Apesar destes sentimentos, não consigo imaginar outro remate: este assenta que nem uma luva no filme em questão, culminando assim todo o desconforto e morbidez do filme que fecha; mantendo, no fundo, a vívida personalidade do filme e contribuindo para o leque de vertiginosas cenas memoráveis desta obra.
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Cloud Atlas
É importante começar por referir que este complexo romance foi adaptado por três realizadores sui generis: Lana Wachowski, Andy Wachowski e Tom Tykwer. E o que consta do curriculum deste trio? Os irmãos Wachowski realizaram um dos filmes de referência do século passado: The Matrix. Realizaram também os dois volumes seguintes dessa saga, mas se o deveriam ou não ter feito já é outra história. Tykwer realizou, entre outros, a belíssima e difícil adaptação do best-seller de Patrick Suskind: Perfume: The Story Of A Murder. Quer no caso de Matrix, quer no de Perfume, o argumento foi escrito pelos realizadores (Tykwer em conjunto com Bernd Eichinger e Andrew Birkin).
Posto isto é natural que a expectativa em relação a Cloud Atlas fosse muito elevada, para além da curiosidade inerente à adaptação cinematográfica dum livro desta natureza.
O argumento foi adaptado pelo trio, com toda a confiança depositada pelo autor (David Mitchell), que refere em entrevistas que estes realizadores são pessoas mais do que competentes e experientes na arte de adaptação, de modo que não sentiu qualquer necessidade de interferir.
De facto, imagino que o romance seja bastante complexo e, nesse sentido, considero a adaptação cinematográfica bem conseguida (embora apenas quem leu o livro possa dar uma opinião mais fidedigna neste campo).
Cloud Atlas é um filme marcante que capta o espectador desde o primeiro instante. Temos não uma, mas diversas histórias interligadas. "We are bound to others." Cada história ocorre num determinado período de tempo e vamos avançando ou recuando de acordo com o desenrolar de cada uma.
Temos um elenco versátil e talentoso. Somos captados desde o primeiro instante pelos dramas, risos e mistérios que se nos apresentam.
Gostei particularmente da história do compositor. A magnífica interpretação de Ben Whishaw (que já havia colaborado com Tykwer em Perfume) é notável, tal como é apaixonante todo o percurso da personagem: a sua força, a sua coragem, a sua maneira de viver. A sequência final desta história é duma beleza ímpar, com a voz em modo off do actor a revelar pensamentos dignos de nota, acompanhando uma série de imagens de rara poesia.
E parafraseando Sonmi-451: "From womb to tomb, our lives are not our own. We are bound to others. Past and present. And by each crime; and every kindness we birth our future".
Um filme imperdível pela qualidade, originalidade e, sobretudo, pelas ideias subjacentes, tão verdadeiras e intemporais.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Life Of Pi
Ang Lee sempre nos deslumbrou com os seus universos introspectivos, em que a natureza tem um lugar preponderante - ou até mesmo decisivo.
Pi é desde logo um menino particular, por ter nascido num lugar especial, que influenciará de maneira inimaginável a sua vida. A sequência inicial do filme é brilhante, com deliciosas imagens que nos assaltam com o seu exotismo e singularidade.
Pi, como quase todos nós, anda em busca de si próprio e será confrontado consigo mesmo nas extremas condições em que se verá submergido. Essa viagem fantástica e espiritual que marcará a sua vida, é deslumbrante não só pela maneira como transforma a personagem, como também pelos insólitos seres que o acompanham e pelo assombroso cenário em que esta ocorre.
Não sou fã da imagem 3D, embora em determinados casos reconheça que é uma experiência digna de registo.
Louvo o cinema: permite-nos viajar para locais inóspitos, observar imagens de infinita beleza e rara ocorrência, que dificilmente estariam ao nosso alcance.
Life Of Pi é uma apaixonante experiência, que não deixará ninguém indiferente.
domingo, 23 de dezembro de 2012
Anna Karenina
Um dos maiores livros de sempre, obviamente teria de ser transposto uma vez mais para cinema.
Obra maior da literatura mundial, escrita pelo genial Tolstoi, Anna Karenina é uma história dramática e trágica, como todos os grandes russos.
Karenina é uma mulher forte, corajosa, desinibida e, acima de tudo, sincera, sobretudo, consigo própria.
Joe Wright pega neste pesado romance e torna-o leve, dum modo inesperado e agradável. Toda a história é acompanhada de forma original e a maneira como somos transportados de sequência em sequência retiram o pesado fardo da tragicidade latente.
O filme conta com brilhantes interpretações, com destaque para Keira Knithley.
Karenina conta a história duma mulher do seu tempo, história essa obsoleta na civilização ocidental dos dias actuais (no que ao plano objectivo diz respeito). Já no subjectivo, a história é outra, quer os comentários, quer os crescentes ciúmes de Anna são tão reais hoje, como ontem.
Anna Karenina é e será sempre uma das histórias de referência mundial, às quais é sempre bom voltar. E esta adaptação é uma agradável viagem, competente no seu propósito.
Não temos um filme grandioso, mas temos uma adaptação interessante duma obra grandiosa.
sábado, 22 de dezembro de 2012
The Lord Of The Rings: The Return Of The King
O grande culminar desta aventura é celebrado num filme inesquecível.
Todos os momentos levam o espectador sedento de aventura em aventura até ao grande final.
Cenas memoráveis perduram na memória, como a arrepiante cena da aranha.
Recordo uns livros juvenis em que se decidia que passo dar a seguir. O próprio leitor era o herói e poderia escolher os caminhos a tomar ao longo da aventura. Este filme relembrou-me esse universo. Facilmente nos identificamos com a pacatez da vida dos hobbits, calmaria essa que é a paz no meio da loucura, os pequenos gestos corriqueiros como contraponto ao insuportável fardo. Nos momentos decisivos Frodo e Sam agarram-se a pedaços do lar que deixaram.
(Spoiler) Frodo desgastado prossegue até que, no momento final, é o vilão que se torna herói. É o vilão que involuntariamente atinge o objectivo. Por momentos, achamos que o nosso quebrado hobbit não resistirá.
"How do you pick up the threads of an old life? How do you go on when in your heart begin to understand there is no going back? There are some things that time cannot mend. Some hurts that go too deep, that have taken hold." Frodo Baggins
Destaque para Elijah Wood, Andy Serkins, Sean Astin e Viggo Mortensen.
Jackson estará eternamente grato a Tolkien por conceber esta história maravilhosa. E estou certa de que Tolkien estará grato a Jackson por a imortalizar na mais bela das artes.
The Lord Of The Rings: The Two Towers
A grande estrela deste filme é Smeagol/Gollum, que nos fascina e repudia a cada passo. O magnetismo da personagem é inegável. Impossível não sentir compaixão por tal criatura à medida que a vamos conhecendo. O trabalho de Andy Serkins é absolutamente genial, tal como o é todo o processo de criação deste ser, que à data tratava-se da mais avançada tecnologia (ainda hoje referência neste campo). Apenas o conflito entre tecnologia e realidade justifica a ausência de nomeações e prémios para esta interpretação descomunal. Gollum é apaixonante, tornando-se a personagem de referência de toda a saga.
Este capítulo mantém o elevado nível do anterior e abre-nos ainda mais o apetite para our precious sobremesa.
The Lord Of The Rings: The Fellowship Of The Rings
O primeiro acto é a introdução para este mundo de fantasia.
Já me referi exaustivamente - no The Hobbit - sobre esta magnífica criação de Tolkien, ilustrada por Jackson.
Não compreendo como nunca me debrucei sobre estes filmes antes. A magia é contagiante.
Neste primeiro capitulo soltam-se os feitiços para uma boa dose de emoções.
O elenco, brilhantemente escolhido, dá vida a esta história cativante, que nos vai enredando com o seu magnetismo.
(Spoiler) É formada a Irmandade do Anel e as personagens começam a ser reveladas. A tarefa que Frodo tem pela frente é mais árdua do que imagina, como demonstra a expressão de Gandalf no momento decisivo. Para além da força das interpretações (Elijah Wood, Ian McKellen, Viggo Mortensen e Sean Bean têm aqui um papel decisivo), também as variadas criaturas têm impacto no espectador. O grupo separa-se, mas o enredo torna-se mais apetitoso e aguarda-se o próximo petisco com água na boca.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
The Hobbit An Unexpected Journey
Confesso que nunca fui fã da saga Lord Of The Rings. Reconheço agora que tal se devia a mim e não à saga.
A receptividade do sujeito é mais importante do que a própria experiência. É a capacidade de absorção e a atenção que o observador devota a um determinado momento que transformam todo esse acontecimento em algo digno de registo.
Vi realmente o The Hobbit: An Unexpected Journey e absorvi este universo que Tolkien inventou e que Jackson transpôs para o grande ecrã de maneira magistral. Claro que esta obra literária é uma das histórias com maior potencial para transpor para o cinema, devido à envolvente em que se insere. E com os avanços tecnológicos os efeitos visuais e sonoros têm tudo para conferir maior realismo a este imaginário literário, como se as próprias palavras de Tolkien ganhassem vida em cada frame de Jackson. Menção especial para a apaixonante banda-sonora, nomeadamente a Misty Mountains interpretada pelo coro de anões.
Não sei como nunca tinha valorizado ou sequer me tinha interessado por esta saga antes, uma vez que todo este mundo de magia, com feiticeiros e guerreiros é um tema que me fascina desde a infância.
Fiquei extasiada com as paisagens, as personagens, a história. E este, supostamente, nem é o melhor de Tolkien (nem de Jackson). Obviamente fiquei cheia de vontade de (re)ver com olhos de ver os primeiros filmes (segundo volume da saga).
A Terra Média é um lugar mágico que dá vontade de explorar até ao último esconderijo, pois há sempre algo inesperado para nos surpreender.
E este filme foi uma viagem inesperada para mim.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Brilhantismo em Shame
Um filme notável, uma cena indescritível, dois protagonistas grandiosos. E não é à toa que Fassbender é um dos melhores actores actuais:
domingo, 12 de agosto de 2012
The Sources Of Everything We Believe
"What I never accept is that what we understand has got us no where. We have to go out and reach out a territory, we have to go back, to the sources of everything we believe. I don't want to just open the door and show the patient his illness, squatting there like a toad. I want to try and find a way to help the patient reinvent himself. To send him off on a journey at the end of which is waiting the person he has always intended to be."
Carl Jung (Michael Fassbender) - A Dangerous Method
domingo, 5 de agosto de 2012
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Magia em The English Patient
Uma das sequências mais belas da sétima arte, dessa obra colossal que é The English Patient.
"Then one day we'll meet."
"Then one day we'll meet."
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
The Dark Knight Rises
Ok: se eu só pudesse escolher um género de filmes (perdoa-me ficção científica) escolheria os filmes de acção.
The Dark Knight Rises supostamente estaria em Super Heróis, mas o que Nolan fez a este personagem transcende esse género. A triologia com que nos brindou até à data enquadrar-se-ia em diversos géneros, mas (e sobretudo) no de acção.
The Dark Knight Rises, à semelhança do seu antecessor, tem um elenco de luxo e está brilhantemente realizado. Ficamos pendurados na cadeira do primeiro ao último momento. Um dos pontos chave desta obra é a banda-sonora que tem uma força esmagadora, conjugada de forma perfeita com as imagens.
No entanto, embora The Dark Knight Rises cumpra a sua função, não mantém a avalanche de questões levantadas pelo volume anterior; embora tenha um vilão soberbo (Tom Hardy está avassalador (porque a representação tem tanto de corporal como de facial)) não se compara à insana obsessão de Joker. É dificil superar a perfeição e, embora a comparação não seja desejável, torna-se inevitável. Nem mesmo o charme de Catwoman consegue igualar o carisma de Joker.
The Dark Knight foi um filme ímpar na história do cinema. Levantou diversas questões de enorme interesse filosófico. Questões essas que em The Dark Knight Rises são exploradas de forma mais concreta e intensa. Talvez seja essa consistência que o torna quase perfeito e talvez fosse o vagueamento de Joker e a sua ausência de explicações que tornassem mais perfeito, mais próximo da ausência de fronteiras definidas entre bem e mal que representam a realidade. Porque na realidade tudo é relativo, até mesmo: "land of the free and home of the brave."
quinta-feira, 26 de julho de 2012
The Tree Of Life
Posso começar por dizer que Terrence Malick é um dos realizadores que mais me fascina.
The Tree Of Life é mais uma das suas obras primas.
À semelhança de The Thin Red Line ou The New World este filme é um poema audível e visível.
As imagens de infinita beleza levam-nos ao questionamento do nosso próprio percurso, do sentido do todo, da casualidade do mundo, do confronto e simultaneamente da complementaridade entre a natureza e a graça, tão bem representados na pele dos progenitores.
A luz que nos guia e que existe em cada um de nós, é também ela, um reflexo da fugacidade de tudo, que o Homem, como ser pensante, tem dificuldade em aceitar. A permanência é uma necessidade intrínseca da condição humana e a libertação é alcançada pela aceitação da árvore da vida. Ou como diria Blake nessa sensata e esclarecedora quadra de nome Eternity:
"He who binds to himself a joy
Does the winged life destroy;
But he who kisses the joy as it flies
Lives in eternity's sun rise. "
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Moonrise Kingdom
Ora aqui está uma obra surpreendente.
Eis que vou ao cinema despida de expectativas (e nos dias que correm ainda há espaço para expectativas?) e este filme tem um efeito de deslumbramento.
Para além do soberbo leque de actores, a história simples e tão divertida quanto tocante apaixona qualquer espectador.
Tem como palco essa época idilica e sem fronteiras que se chama juventude.Aquele tempo onde se acredita até ao último folego, até à última gota. Aquele tempo onde tudo é possível. Aquele tempo onde o lugar para sonhos e possibilidades é infinito. Onde "pensar é estar doente dos olhos":
"Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar."
Alberto Caeiro
Imperdível!
sábado, 21 de julho de 2012
domingo, 1 de julho de 2012
A Beleza da Simplicidade em In The Mood For Love
Uma das melhores sequências de que há memória na sétima arte:
sexta-feira, 29 de junho de 2012
quinta-feira, 14 de junho de 2012
quarta-feira, 13 de junho de 2012
terça-feira, 12 de junho de 2012
segunda-feira, 28 de maio de 2012
sábado, 26 de maio de 2012
Diálogo em Smultronstället
Um daqueles filmes memoráveis que Bergman nos deixou e nunca o sabor dos Morangos Silvestres foi o mesmo:
sexta-feira, 25 de maio de 2012
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Mad Men
Embora a caixinha mágica seja um caso muito à parte do mundo da magia, há algumas obras que merecem lugar de destaque. Mad Men é um desses casos.
As séries arrastam-se ao longo do tempo (o que normalmente deteriora a qualidade da obra), mas conseguem criar uma ligação entre as personagens e o espectador de forma tão intensa como o cinema. Acompanhar a vida de meia dúzia de personagens, ao longo de diversas temporadas, quando é um trabalho bem desenvolvido torna a experiência divinal. Cria-se uma certa proximidade com todos aqueles seres que acompanhamos religiosamente ao longo de semanas e semanas.
A vida numa agência de publicidade, durante uma época (aparentemente) muito longínqua da nossa.
As pessoas vestiam-se impecavelmente, sendo a indumentária masculina e feminina marcadamente distintas, as mentalidades começavam a mudar – devagar, muito devagar – à medida que um mundo de possibilidades parecia abrir-se gradualmente (e à custa de muito esforço) para o universo feminino.
Nunca uma série retratou tão bem a abismal diferença entre sexos e a conquista de poder por parte duma minoria.
As mudanças que se verificaram em cerca de meio século são abismais, tal como as semelhanças entre o agora e o antes. É extraordinário como o mundo parece mudar tanto e (ao mesmo tempo) manter-se na mesma. Ou como diria Don Fabrizio Salina: "Perché tutto rimanga com'è che bisogna che tutto cambi."
A simultânea necessidade de presença e afastamento dos outros, a necessidade de estar só para colmatar a solidão crescente nas actividades sociais, o vazio que assola quando se alcançam as tão esperadas metas, a inquietude duma sociedade de aparências e os segredos que cada um transporta.
Don Draper é um solitário por excelência. Prova disso é o final da quarta temporada (que quase me impedia de recomeçar a ver a quinta...). Mas continuei e devo dizer que continuo tão satisfeita como quando comecei (e pode-se acrescentar que todos os solitários podem ser quebrados).
A enorme riqueza e versatilidade de Mad Men está no facto de nenhuma daquelas personagens ser perfeita ou linear, a começar pelo protagonista.
Uma série brilhante, com um óptimo elenco e uma época impecavelmente reproduzida.
"It’s toasted!"
terça-feira, 15 de maio de 2012
sábado, 12 de maio de 2012
Der Himmel über Berlim
Uma ideia genial, actores soberbos e um argumento imenso dão origem a um dos filmes mais assombrosos que o cinema deu à luz.
Wim Wenders é uma referência notória da sétima arte e, se deslumbra em Paris Texas, em Wings Of Desire leva-nos ao paraíso.
Anjos que se movem entre humanos, ocultos, desconhecidos, invisíveis. Que tentam fazer a diferença com um simples toque, uma presença imperceptível que pode transformar a lágrima em sorriso, a morte em vida. Anjos que acompanham e que tentam colmatar a solidão, sendo eles próprios a representação da mesma. A insustentável certeza da eternidade pesa com uma força aterradora.
A vida a preto e branco por oposição à vida a cores. O conforto da certeza por oposição à inquietação da incerteza. A ténue permanência por oposição à intensa fugacidade.
Qual o sentido da vida, se o há? Qual o significado do movimento constante? Da irrepetibilidade das "mandíbulas devoradoras do tempo"? Qual a dimensão que a mortalidade atribui às vivências?
Este filme é indescritível por isso estas palavras são ocas e vazias, não conseguindo de modo algum transmitir a grandiosidade que as imagens em movimento nos transmitem.
"Bigger than life": imperdível!!!
sábado, 5 de maio de 2012
El Hijo De La Novia
Mais um apaixonante filme de Juan Jose Campanella (o mesmo de El Secreto De Sus Ojos).
El Hijo De La Novia é um adorável e divertido filme, com o mesmo protagonista da película anteriormente citada.
É um filme sobre os pequenos pedaços do dia-a-dia que formam as nossas vidas, sobre a pessoa que queremos ser e a pessoa que nos tornamos, sobre aquilo que realmente queremos fazer e o que nos separa dessa decisão.
É um filme sobre sentimentos que resistem uma vida, sobre indecisões e incertezas.
É um filme sobre uma das doenças mais temidas e aterradoras da nossa sociedade: Alzheimer, o grande Adamastor que rouba memórias, sentimentos e sentidos, desconstruindo diariamente, imprevisivelmente e num único momento, o que leva uma vida a construir.
O que fazer quando não se recorda uma vida que vivemos, a pessoa que somos, as pessoas que nos rodeiam? O que fazer quando alguém que amamos não recorda quem somos, o que vivemos, o que atravessamos? Será que um único minuto de consciência pode fazer com que tudo o que se desfaz e desaparece valha a pena?
domingo, 29 de abril de 2012
Melhor Cena de The Last Station
Se algum dia chegar a essa idade avançada de Tolstoi, brilhantemente interpretado por Christopher Plummer, nada será mais belo e satisfatório do que recordar a juventude dessa forma alegre e desprendida, como naquele que é um dos momentos mais grandiosos da sétima arte:
http://www.youtube.com/watch?v=soTAkhZ4rXM&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=soTAkhZ4rXM&feature=related
domingo, 22 de abril de 2012
sábado, 21 de abril de 2012
The Shawshank Redemption
The Shawshank Redemption é um filme inesquecível.
O filme que mais incide sobre a liberdade passa-se numa prisão.
Acompanha a história de diversos reclusos e de um em particular: Dusfrene. Ao longo da sua estadia na penitenciária vão-se sucedendo os acontecimentos mais improváveis, os momentos mais divertidos ou os instantes mais inspiradores. Dusfrene cria laços de amizade com outro recluso de nome Red e é através desta ligação imprevista que vamos acompanhando o desenrolar da história.
Tim Robbins tem aqui um dos papéis da sua carreira e a acompanhar temos um memorável Morgan Freeman. Com dois actores desta envergadura torna-se mais fácil transformar uma história em algo grandioso. Estes dois gigantes da interpretação aliados a um argumento incrivelmente rico e inspirador e a um elenco de elevada qualidade tornam o filme mágico em toda a sua grandeza.
Há personagens maiores do que a própria vida.
Os filmes fazem-nos acreditar que a vida pode ser melhor. Que as pessoas podem ser melhores. Que nós próprios podemos ser melhores.
Esse é o grande truque do cinema: vender sonhos, inspirar-nos.
A liberdade está dentro de nós.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Carandiru
É um filme tocante sobre o escândalo numa prisão que parou o Brasil.
Mas mais do que isso é um filme de pessoas, de histórias, de amores, de decisões. É um filme de resignação e indignação.
Todo o elenco é soberbo (ou não fossem os actores brasileiros dos melhores do mundo) e a maneira como a história e as histórias se desenrolam detém o espectador do início ao fim.
"Duas mulheres, Doutor: o quê que o Majestade tem que a gente não tem?"
"Você já beijou a sua mulher hoje, Sr. Pires?"
"Eu não, porquê?"
"Aí é que tá."
Repleto de tantos momentos divertidos como de momentos comoventes, Carandiru é um filme que marca. É um filme que se relembra de tempos a tempos a pretextos improváveis.
"Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia."
Vinicius de Moraes
quinta-feira, 19 de abril de 2012
El Secreto De Sus Ojos
A ternura abre, mas é um crime que não se pode esquecer que rasga as primeiras imagens do ecrã. O espectador fica cativo desde o primeiro momento.
Como se aceita o inaceitável?
Relembro a frase de Munny "It's a hell of a thing, killin' a man. Take away all he's got, and all he's ever gonna have."
Como se esquecem as pessoas que nos são tiradas?
O segredo da investigação dum crime pode estar num pormenor tão simples como um olhar.
Como se apaga a injustiça flamejante?
Um dos filmes mais brilhantes e comoventes que vi.
Como se resiste à loucura?
Os actores são duma magnificência incrível, sobretudo a dupla de protagonistas.
As estações de comboios são por excelência locais de encontros e despedidas; locais de esperas infrutíferas ou onde momentos mágicos e insubstituíveis têm lugar.
A matéria desintegra-se. Mas para onde vão os sentimentos?
terça-feira, 17 de abril de 2012
Encontro em Der Himmel über Berlin
Acabei agora mesmo de ver uma das maiores obras do cinema e estou extasiada. Um filme maior do que a própria vida.
Uma das melhores cenas da sétima arte:
Quem nunca viu o filme é favor não visualizar a cena que se segue.
Uma das melhores cenas da sétima arte:
Quem nunca viu o filme é favor não visualizar a cena que se segue.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Infinity
Richard Feynman foi um dos seres humanos mais fascinantes que existiu. Um físico tão genial como multifacetado que se dedicou à música, ao desenho, à filosofia, à teologia ou à biologia, Feynman foi uma pessoa versátil, genial e divertida.
Recomendo vivamente Surely You're Joking Mr. Feynman para quem tiver curiosidade em conhecer outras facetas deste curioso homem, contadas na primeira pessoa, num hilariante e singular retrato.
Infinity visa retratar o primeiro casamento de Feynman, que coincidiu com a investigação que culminou na bomba atómica. Arlene, a primeira esposa, viria a falecer de tuberculose em 1945.
A genialidade deste homem merecia um filme mais emblemático e um protagonista com mais carisma.
Broderick está perfeitamente desenquadrado da personagem e, nem sequer se deram ao trabalho de lhe fornecerem umas lentes de contacto para dar maior veracidade à fisionomia da pessoa que visavam caracterizar. (A nível físico, possivelmente a melhor escolha seria Liev Schreiber.)
Para além da péssima escolha a nível de protagonista, também as divertidas histórias de Feynman aparecem deturpadas e em parco número num filme que poderia ser bem mais rico, pois foi beber inspiração a uma enorme tesouro. A tudo isso junte-se o ridículo poster que vêm acima e, naturalmente, este filme não consegue atrair espectadores, a não ser que sejam ficcionados em Feynman e na sétima arte.
É pena. Feynman merecia muito mais. E a sua vida dava uma grande obra de cinema, é caso para dizer que no fundo os cientistas são uns poetas:
"Poets say science takes away from the beauty of the stars - mere globs of gas atoms. I, too, can see the stars on a desert night, and feel them. But do I see less or more?”
"It doesn't matter how beautiful your theory is, it doesn't matter how smart you are. If it doesn't agree with experiment, it's wrong."
"Physics is like sex. Sure, it may give some practical results, but that's not why we do it.”
"Einstein was a giant. His head was in the clouds, but his feet were on the ground. Those of us who are not so tall have to choose!”
Faço minhas estas palavras em honra deste também génio da Física.
domingo, 15 de abril de 2012
sábado, 14 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
quinta-feira, 12 de abril de 2012
In The Land Of Blood And Honey
Angelina Jolie é uma das estrelas de cinema mais mediática e dedicada da era actual.
É uma mulher admirável que abraça causas nobres e, aparentemente, esforçada em tudo o que faz.
Este In The Land Of Blood And Honey não é excepção. Há notoriamente uma enorme dedicação da actriz (aqui como realizadora e argumentista) a este projecto.
Para além destas características, Jolie gosta de personagens fortes e histórias com carácter. Este filme é representativo disso mesmo, pois trata-se duma obra marcante.
In The Land Of Blood And Honey é um filme pesado e sem papas na língua, que retrata os conflitos ocorridos na Bósnia e mostra guerra tal como ela é/foi.
Em guerra são cometidas as maiores atrocidades, os seres humanos deixam de ser humanos e passam a ser inferiores a animais. Os animais caçam para comer a não infligem a si próprios ou a outros as atrocidades que os humanos parecem ter prazer em perpetuar.
E, como habitualmente, as pessoas que mais sofrem, que mais são prejudicadas por estes conflitos sem sentido, são as mulheres e as crianças.
Esta obra debruça-se, sobretudo, nos males infligidos às mulheres, pessoas como nós, como as nossas mães, as nossas irmãs, as nossas filhas, não há tanto tempo assim numa terra bem perto de nós. E, duma maneira mais abrangente, mostra a realidade que acontece no mundo em que vivemos no momento em que escrevo estas palavras.
O mundo é, de facto, um lugar cruel e injusto em que os mais fracos (e simultaneamente os mais fortes) são sucessivamente esmagados pela violência interminável que perpetuamos uns aos outros.Um filme pesado e verdadeiro, não recomendável a estados de espírito sensíveis.
sábado, 7 de abril de 2012
The Thin Red Line
Os seres humanos são feitos de matéria e, como tal, já tiveram várias formas.
E hão-de ter muitas outras formas.
O que hoje é uma pessoa já foi flor, fruto, árvore, pedra ou até um pedaço de mar. E o que era um pedaço de mar, pedra, árvore, fruto ou flor era feito de matéria que hoje se transformou em várias coisas, entre as quais pessoas.
Por isso a matéria de que somos constituídos já se fundiu com uma parte da Humanidade em qualquer outra forma.
Se virmos as coisas assim, olhamos para os outros, sobretudo para os que nos irritam ou de quem não gostamos, duma outra maneira. Somos todos matéria e vamo-nos transformando e cruzando sucessivamente.
"Maybe we're all one big soul everybody's a part of. All faces of the same man."
Um dos melhores filmes que vi até hoje.
A grandiosidade de The Thin Red Line é difícil de esquecer. Vi-o há muitos anos no cinema e por diversas razões ainda não o revi. Mas tenho passagens do filme tão presentes como se o tivesse acabado de ver. É uma obra que marca, que fica cá dentro, como ficam os momentos preciosos, os momentos que conferem eternidade ao tempo que passa.
É um filme sobre a vida, o sentido, a fé, o amor, a esperança.
"What difference you think you can make? One single man in all this madness."
É um filme sobre a ausência de sentido da guerra.
"How many men do you think it's worth? How many lives?"
Sobre o sofrimento, o caos, o conflito, a loucura.
É um filme sobre o que se passa no mais íntimo de cada um de nós.
"I've killed a man, the worst thing you can do. And nobody can touch me for it."
"If I go first I'll wait for you there, in the other side of the dark waters."
É um filme sobre a imprevisibilidade, a eterna certeza que inesperadamente vai acontecer.
"Make no difference who we are, no matter how much training we got or how tuff guy you migh be: if you're at the wrong spot at the wrong time, you're gonna get it."
É um filme sobre a força que o amor concede - a única força capaz de vencer o medo, a poderosa força que dá invencibilidade.
"Because I have you nothing can touch me. No hurt, no grief, not even death."
É um filme sobre as memórias, sobre os refúgios, os universos paralelos que vivem apenas cá dentro.
"There's nowhere we can hide, except on each other."
Alguém escreveu que The Thin Red Line é um poema em forma de filme. E essa afirmação não podia ser mais verdadeira. A música contribui de forma perfeita para esse epíteto. A magnífica e grandiosa banda-sonora adorna as imagens de forma magistral.
É um filme sobre as vivências, os acontecimentos que nos tornam aquilo que somos. Sobre a busca infinita desse ideal vislumbrado, esse mundo de paz.
"I've seen another world. Sometimes I think it was just my imagination."
"Maybe we're all one big soul everybody's a part of. All faces of the same man."
Um dos melhores filmes que vi até hoje.
A grandiosidade de The Thin Red Line é difícil de esquecer. Vi-o há muitos anos no cinema e por diversas razões ainda não o revi. Mas tenho passagens do filme tão presentes como se o tivesse acabado de ver. É uma obra que marca, que fica cá dentro, como ficam os momentos preciosos, os momentos que conferem eternidade ao tempo que passa.
É um filme sobre a vida, o sentido, a fé, o amor, a esperança.
"What difference you think you can make? One single man in all this madness."
É um filme sobre a ausência de sentido da guerra.
"How many men do you think it's worth? How many lives?"
Sobre o sofrimento, o caos, o conflito, a loucura.
É um filme sobre o que se passa no mais íntimo de cada um de nós.
"I've killed a man, the worst thing you can do. And nobody can touch me for it."
"If I go first I'll wait for you there, in the other side of the dark waters."
É um filme sobre a imprevisibilidade, a eterna certeza que inesperadamente vai acontecer.
"Make no difference who we are, no matter how much training we got or how tuff guy you migh be: if you're at the wrong spot at the wrong time, you're gonna get it."
É um filme sobre a força que o amor concede - a única força capaz de vencer o medo, a poderosa força que dá invencibilidade.
"Because I have you nothing can touch me. No hurt, no grief, not even death."
É um filme sobre as memórias, sobre os refúgios, os universos paralelos que vivem apenas cá dentro.
"There's nowhere we can hide, except on each other."
Alguém escreveu que The Thin Red Line é um poema em forma de filme. E essa afirmação não podia ser mais verdadeira. A música contribui de forma perfeita para esse epíteto. A magnífica e grandiosa banda-sonora adorna as imagens de forma magistral.
É um filme sobre as vivências, os acontecimentos que nos tornam aquilo que somos. Sobre a busca infinita desse ideal vislumbrado, esse mundo de paz.
"I've seen another world. Sometimes I think it was just my imagination."
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