quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mad Men



Embora a caixinha mágica seja um caso muito à parte do mundo da magia, há algumas obras que merecem lugar de destaque. Mad Men é um desses casos.

As séries arrastam-se ao longo do tempo (o que normalmente deteriora a qualidade da obra), mas conseguem criar uma ligação entre as personagens e o espectador de forma tão intensa como o cinema. Acompanhar a vida de meia dúzia de personagens, ao longo de diversas temporadas, quando é um trabalho bem desenvolvido torna a experiência divinal. Cria-se uma certa proximidade com todos aqueles seres que acompanhamos religiosamente ao longo de semanas e semanas.

A vida numa agência de publicidade, durante uma época (aparentemente) muito longínqua da nossa.
As pessoas vestiam-se impecavelmente, sendo a indumentária masculina e feminina marcadamente distintas, as mentalidades começavam a mudar – devagar, muito devagar – à medida que um mundo de possibilidades parecia abrir-se gradualmente (e à custa de muito esforço) para o universo feminino.
Nunca uma série retratou tão bem a abismal diferença entre sexos e a conquista de poder por parte duma minoria.
As mudanças que se verificaram em cerca de meio século são abismais, tal como as semelhanças entre o agora e o antes. É extraordinário como o mundo parece mudar tanto e (ao mesmo tempo) manter-se na mesma. Ou como diria Don Fabrizio Salina: "Perché tutto rimanga com'è che bisogna che tutto cambi." 

A simultânea necessidade de presença e afastamento dos outros, a necessidade de estar só para colmatar a solidão crescente nas actividades sociais, o vazio que assola quando se alcançam as tão esperadas metas, a inquietude duma sociedade de aparências e os segredos que cada um transporta.

Don Draper é um solitário por excelência. Prova disso é o final da quarta temporada (que quase me impedia de recomeçar a ver a quinta...). Mas continuei e devo dizer que continuo tão satisfeita como quando comecei (e pode-se acrescentar que todos os solitários podem ser quebrados).

A enorme riqueza e versatilidade de Mad Men está no facto de nenhuma daquelas personagens ser perfeita ou linear, a começar pelo protagonista.

Uma série brilhante, com um óptimo elenco e uma época impecavelmente reproduzida. 

"It’s toasted!"

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