Os solitários do mundo cinematográfico apaixonam-nos: temos o eterno James, o divertido Indy, o ganancioso Gordon, o mafioso Michael, o politicamente incorrecto Tony, o aparentemente carrancudo Don, o resistente John, o atormentado Brick, o insubordinado Luke, entre muitos e tantos outros que povoam desde sempre o nosso imaginário.
É no seu cepticismo, na sua descrença que o mundo se revê. Personagens de carácter incerto e de falsa seriedade, interrompida frequentemente, pelo certeiro (e algo cínico) sentido de humor acutilante.
O solitário tem fantasmas, tem segredos, não sabe quem é, mas tenta descobri-lo (um pouco mais) na interacção com os que o rodeiam. E, afinal, o que é a vida senão isso? O que é a vida senão descobrirmo-nos, constantemente, no contacto com os outros? Socializar: veículo único de chegarmos ao fundo de nós próprios e, em antítese, expoente máximo de solidão. É no olhar dos outros que nos revemos ou nos ausentamos. É no reflexo desse olhar que vemos o conforto dum espelho ou a crueza duma parede. É algo de que, simultaneamente, se depende e se abomina. E é nesse curioso jogo que o solitário se revela, um pouco mais, a quem realmente importa: ele próprio.
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