Ao deparar-me com este texto: http://aeiou.expresso.pt/comentario-de-henrique-raposo-sobre-as-pontes-de-madison-county=f678125 não podia deixar de o partilhar neste cantinho.
"As Pontes de Madison County" é uma das maiores histórias de amor do cinema contemporâneo. Ponto.
Está lá em cima, no Olimpo romântico, junto de "Depois do Ódio", "Inimigos Públicos", "Miami Vice", "Disponível para Amar" ou "Brokeback Mountain". Nesta história, um fotógrafo de Washington (Clint Eastwood/Robert) e uma dona de casa do Iowa (Meryl Streep/Francesca) apaixonam-se de forma terminal.
E, como não podia deixar de ser, o filme é capturado pela luz de Meryl Streep. Nunca o adultério foi tão bonito. Sem a presença magnética de Streep, este filme seria uma xaropada venezuelana. Com outra atriz, este argumento fabricaria uma coisa medíocre. Com Streep, este argumento originou um aríete que nos arromba sem pedir licença.
Através de Streep, esta Francesca do Iowa de 1965 passa a ser uma heroína. No fundo, Meryl Streep prova que o melodrama pode partir a loiça toda. Porque, de facto, o material melodramático não é mau (ou bom) à partida.
Tudo depende da forma como é trabalhado. E nesse processo de depuração é fundamental a presença de uma atriz com amplitude térmica. Em "As Pontes de Madison County", Streep consegue tocar no oito e no oitenta, como só ela sabe. Num momento, Francesca parece uma adolescente em pulgas perante o citadino que vem fotografar as pontes lá da terra.
Porém, segundos depois, Streep já é a balzaquiana fogosa. Neste carrossel emocional, Streep aparece com os olhos da esperança, para logo a seguir surgir com o fantasma do desespero na face. Mas porquê desespero? Por que razão Streep não deixa a família e o marido para abraçar o amor da sua vida? Uma leitura superficial diria que Eastwood está a questionar a família americana e que Francesca é uma mulher camiliana presa nas convenções sociais. Eu prefiro ver as coisas de outra forma.
Francesca não abandona o marido porque a bondade não merece ser magoada. Esta mulher está entre o amor e a bondade. Ela sabe que a bondade existe. O marido e os filhos são a prova disso. E, no momento decisivo, Francesca recusa destruir essa bondade. O inferno não é a presença do mal. O inferno é estar entre dois amores, entre duas versões do bem, entre os melhores anjos da nossa natureza."
Comentário publicado no Expresso a 1 de Outubro de 2011, por Henrique Raposo
Adorei o texto e gosto especialmente da parte "O inferno não é a presença do mal. O inferno é estar entre dois amores, entre duas versões do bem, entre os melhores anjos da nossa natureza."
ResponderExcluirRealmente não podemos mandar no que sentimos nem por quem sentimos...simplesmente acontece, mas temos poder de escolha e não temos que viver algo que já não faz sentido e que nos deixa com sentimento de vazio.
E sim, a Meryl Streep está fantástica e dá vida ao filme!