segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Malèna




Este filme marcou-me profundamente.
Vi-o apenas uma vez, mas recordo diversos momentos, nomeadamente a delicadeza desesperante do momento final.
É um filme que mostra muito bem a injustiça, que é sempre e preferencialmente cometida, contra as mulheres. Jamais esquecerei a angústia dos olhos da protagonista, forçada a uma vida indesejada, por e para todos. Jamais apoiada seja por quem for, apenas como imagem de desejo para o sexo masculino e imagem de inveja para o sexo feminino. Perdida, por ausência dum elemento do sexo oposto, elemento esse que na figura de marido ou de pai era o representante da sua honra e prestígio. Porque uma mulher sozinha jamais pode atingir esse estatuto; sendo alvo de selvagem crueldade, sobretudo do sexo feminino.
É um filme que mostra bem a beleza do corpo feminino na imagem do desejo incarnada por Monica Belucci (e magistralmente filmada por Giuseppe Tornatore). Cada contorno do corpo feminino, cada linha do rosto, a maneira como o cabelo longo cai e esvoaça, a maneira como os lábios se entreabrem, a maneira como os seios parecem querer revelar-se, a maneira como os tecidos acariciam a pele, a maneira como a roupa aconchega cada pedaço de carne.
É um filme que mostra bem a inocência em todo o seu esplendor e os primeiros sinais duma juventude ardente, dominada pelos calores da puberdade. A passagem de menino a homem, em todas as suas idiossincrasias (numa deliciosa interpretação de Giuseppe Sulfaro).
É um filme que mostra bem que são as memórias jovens que nos marcam de forma mais profunda e definitiva. Que permanecem na mente dum modo assombroso na sua plenitude e realismo.
É um filme que mostra que amor e desejo andam de mãos dadas e que os primeiros sentimentos têm a força de marcar uma vida.
E, tudo isto, acompanhado duma das mais belissímas bandas-sonoras de sempre (ou não fosse Ennio Morricone um dos maiores génios neste campo).
Sendo certo na vida, apenas a morte, há momentos que permanecem connosco até esse dia, que fazem parte de nós e nos definem duma maneira muito mais decisiva do que alguma vez imagináramos. Momentos esses que, podendo ser dependentes de outrem, nos marcam de forma única, nem mesmo o objecto de desejo imaginando. Ficam, independentemente do nome, do rosto, do timbre, dos contornos, dos receios, dos desejos, dos sonhos, dos segredos serem lembrados ou até mesmo conhecidos.

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