Recordo este filme por contar a tocante e verídica histórica de alguém que deseja morrer, sendo que o mundo (ou a civilização) o impede de tal.
Na civilização ocidental a morte é vista, com frequência, como algo temível, assustador e indesejável. De facto, a morte traz consigo a ausência de alguém e, consequentemente, os sentimentos de dor associados a essa perda. As pessoas vivem agarradas a tudo o que têm, inclusivamente aos outros e a si próprias. Este apego gera uma angústia (elevada) face à inevitabilidade dum acontecimento irreversível. Ou nas palavras duma grande amiga minha: “as pessoas preocupam-se tanto em não morrer, que nem querem saber como vivem”.
O mal-estar gerado por este acontecimento é quase igualado pelo debate do mesmo. Desejar morrer é algo inaceitável numa sociedade que preza a vida como razão última. Recordo um momento do filme em que o pai do protagonista afirma: “pior do que ter um filho morto, é ter um filho que quer morrer”.
O direito à escolha deveria ser um bem essencial numa sociedade evoluída e livre.
A principal dificuldade, no que a este assunto diz respeito, é definir quais as “regras” que serão válidas para uma ou outra situação. Trata-se dum assunto melindroso e exaustivo e, também talvez por essa dificuldade, ainda não se tenha avançado mais neste campo.
Mas o direito a morrer e, consequentemente, a escolher condignamente a vida que se vive não deveveria ser um dos assuntos mais prementes a decidir?
(Nota: trata-se dum belíssimo filme em que a corajosa história de Ramon Sampedro é contada de forma comovente por Alejandro Amenábar e interpretada de modo magistral por Javier Bardem.)
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