terça-feira, 29 de novembro de 2011
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
A Dangerous Method
Cronenberg é um realizador muito particular. Os seus filmes possuem traços estranhos, nem sempre apreciados pelo público em geral. Este não é excepção. Trata-se dum filme singular, nomeadamente pelas pessoas sobre as quais se debruça e tão ou mais importante, as ideias defendidas por essas mesmas pessoas.
O leque de actores deste filme é brilhante. Temos o, já habitual nas obras de Cronenberg, Viggo Mortensen, que mais uma vez desempenha um papel com o seu nível de excelência. Desde A History Of Violence, passando por Eastern Promisses, esta colaboração entre actor e realizador tem vindo a tomar lugar de forma bastante frutífera. Temos também uma repetição do elenco de Eastern Promisses, noutro excelente actor de nome Vincent Cassel. Depois temos uma actriz da qual nunca gostei particularmente, mas devo dizer que a sua prestação neste filme me convenceu: Keira Knightley. Acho que o trabalho desenvolvido nesta película é de elevada qualidade e atrevo-me a afirmar que poderá originar muitos prémios. E, por último, temos ainda a magnífica interpretação de Michael Fassbender, um actor que se tem vindo a revelar cada vez mais e mais talentoso.
Para além deste rico leque de actores, as personagens que cada um interpreta conferem de imediato uma certa grandeza e curiosidade ao filme. Assim, cada um deles representa, respectivamente, Sigmund Freud, Otto Gross, Sabina Spilrein e Carl Jung.
A história é bastante interessante e está muito bem desenvolvida ao longo da película. Não será de estranhar que tal conjunto de personagens se debruce sobre a sexualidade e todos os meandros psicológicos associados à mesma. Deveremos de facto ceder ao desejo, em toda e qualquer circunstância, como algo natural, como defende Gross? Ou deveremos, como seres racionais, em sociedade, reprimir certas e determinadas vontades, conforme se questiona Jung? Estará a sexualidade reprimida por trás de cada um dos nossos sonhos e pensamentos inconscientes, como parece acreditar Freud? Ou haverá outras razões subjacentes às dúvidas e angústias da nossa mente? Será que o acto sexual é simultaneamente criador e destruidor, conforme defende Spilrein? Estaremos condenados, como seres pensantes em sociedade, a reprimir as nossas vontades? Ou fazemo-lo não por necessidade social, mas por uma necessidade interior?
Mais importante do que revelar e debater todas estas questões, é o passo que cada uma destas pessoas deu no sentido de compreender as razões por detrás das mesmas. E é na ligação e confronto entre pessoas e ideias que nos revelamos e compreendemos a nós próprios. E a compreensão será, possivelmente, o primeiro passo para a libertação.
O Refúgio
Grande parte da magia do cinema vem de mostrar, sobretudo, a grandiosidade em todo o seu esplendor.
Mostrar cada pormenor e eternizá-lo para sempre na tela e, consequentemente, na memória de quem o testemunha é um acto de magia. Não é a toa que se dizia que os actores são feitos da mesma matéria de que são feitos os sonhos.
E, mais do que eternizar o momento, o cinema tem a particularidade de deixar para o imaginário muitas coisas, nomeadamente o tempo, que parece voar, ou o dia-a-dia rotineiro dos protagonistas, que parece ser inexistente, ou ainda o resto da história, que após a resolução, parece ser de eterna felicidade.
Para além de todos estes pontos, o cinema tem ainda outro factor essencial que contribui para a sua magia o The End no final da película. Embora, agora já em desuso, o The End está sempre subjacente à experiência duma película, que tem delimitação no tempo. Sabemos que vai sempre acabar e sabemos como terminou. Podem ficar variantes por decidir e que podemos debater até à exaustão, mas o todo está lá. Não se pode acrescentar ou retirar nada e essa terminação dá-nos um certo conforto.
Embora, o cinema seja uma imitação da vida, esse conforto cinematográfico apenas surge na vida real quando a história também termina. Só que até a história terminar há imensos, mais do que muitos, momentos banais que o cinema não capta. E, daí o cinema nos parecer tão perfeito e encantador, e a vida muitas vezes insípida e imperfeita.
E é por essa razão que o cinema é o refúgio por excelência. É esta a magia do cinema: resumir a vida aos momentos que marcam a memória.
sábado, 26 de novembro de 2011
Most Totalitarian Of The Arts
"Cinema is most totalitarian of the arts. All energy and sensation is sucked up in the skull, a cerebral erection, skull bloated with blood. Caligula wished a single neck for all his subjects that he could behead a kingdom with one blow. Cinema is this transforming agent. The body exists for the sake of the eyes; it becomes a dry stalk to support these two soft insatiable jewels."
Jim Morrison
Jim Morrison
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Into The Wild
O que leva alguém a deixar tudo para trás e enveredar pelo desconhecido?
Antes da obra-prima cinematográfica que Sean Penn criou, quero dizer umas palavras sobre a obra-prima literária que Krakauer concebeu: Into The Wild é um livro intenso, que prende desde a primeira palavra. Retrata a história de Christopher Johnson McCandless, intercalada pelos próprios pensamentos e experiências do autor relativamente à incessante busca da liberdade e verdade, que só a natureza parece aplacar.
Sean Penn realizou um filme marcante, com a sólida e brilhante presença de Emile Hirsch como jovem protagonista.
McCandless iniciou esta aventura em 1990 e em dois anos percorreu grande parte dos Estados Unidos da América e toda a zona ocidental do Canadá, rumo ao Alaska”. Em Maio de 1992, quando chegou ao destino que seria sua casa durante cerca de 112 dias, escreveu: “Two years he walks the earth. No phone, no pool, no pets, no cigarettes, ultimate freedom. An extremist. An aesthetic voyager whose home is the road. Escaped from Atlanta. Thou shalt not return, ‘cause “the west is the best”. And now after two rambling years comes the final and greatest adventure. The climatic battle to kill the false being within and victoriously conclude the spiritual revolution. Ten days and nights of freight trains and hitchiking bring him to the great white north. No longer to be poisoned by civilization he flees, and walks alone upon the land to become lost in the wild”, assinando como Alexander Supertramp, um dos vários nomes que assumiu ao longo da viagem.
Esta história inspiradora, frequentemente criticada pela sociedade, não deixa de ser intrigante em toda a sua magnitude. McCandless teve a coragem de fazer algo completamente invulgar, fugindo às regras ou padrões impostos pela sociedade e, mais importante, algo em que acreditava profundamente. Teve a coragem de ser egoísta e viver por e para si.
E a questão surge naturalmente: o que leva alguém a deixar tudo para trás and walk into the wild? Com certeza já todos pensámos nisto mesmo, mas onde está a ténue fronteira que separa o pensamento do efectivo passo?
A apaixonante história de McCandless é retratada de forma realista, sólida e segura, ao som duma das melhores bandas-sonoras de todos os tempos, interpretada por Eddie Vedder: as imagens e a música fundem-se de forma perfeita.
Num dos livros, que levava consigo, sublinhou o seguinte: “Rather than love, than money, than fame, give me truth. I sat at a table where were rich food and wine in abundance, an obsequious attendance, but sincerity and truth were not; and I went away hungry from the inhospitable board. The hospitality was cold as the ices.” Henry David Thoreau – Walden or Life In The Woods
A busca de McCandless pela liberdade e, acima de tudo, pela verdade é uma inspiração para todos os que nas palavras de Tennesse Williams se encaixam em: “A prayer for the wild at heart, kept in cages.”
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Fight Club
Este filme foi como um murro no estômago. Devia ter uns 15 anos quando o vi pela primeira vez e devo dizer que os efeitos que este filme tem no imaginário da juventude é brutal. Quase que posso dizer que a minha vida nunca mais foi a mesma.
Who the fuck was Tyler Durden e porquê esse desapego total às grilhetas impostas pela sociedade? Porquê essa recusa em viver como mais um? Porquê a inaceitação do pré-definido e estabelecido, como algo intrínseco e correcto para nós próprios?
Era óbvio, após experienciar este filme, que tínhamos (temos) de nos questionar sobre todo e qualquer assunto, sempre e em todas as circunstâncias.
Era óbvio que vivíamos numa sociedade consumista, em que todos (todos, sem excepção) somos escravos do dinheiro. Faz parte da grande máquina em que estamos inseridos. E ou aceitamos isso ou vivemos à margem da sociedade, como fazia Tyler Durden (talvez por isso tão admirável e inspirador) que se refugiava num movimento criado por si, que origina o Fight Club do título.
Para além de todas as questões que o filme levantava e toda a inspiração que advinha da admiração da atitude do protagonista, o final do filme era apoteótico. Era como se abríssemos os olhos a um universo completamente novo, no qual nunca havíamos realmente parado para pensar e do qual continuaríamos (continuaremos) alheios a maior parte do tempo em que somos empurrados, levados, consumidos pela máquina.
O trio de actores havia sido impecavelmente escolhido e o realizador de Seven e de The Game excedia os trabalhos anteriores extravasando, de longe, as expectativas. David Fincher revelava-se um mestre.
Dizem que não há vez como a primeira e, de facto, tal aplica-se na perfeição a esta obra. Podemos rever este filme, mas o impacto que a primeira vez provoca nas entranhas é bastante superior e muito mais intenso do que qualquer uma das seguintes.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Mar Adentro
Recordo este filme por contar a tocante e verídica histórica de alguém que deseja morrer, sendo que o mundo (ou a civilização) o impede de tal.
Na civilização ocidental a morte é vista, com frequência, como algo temível, assustador e indesejável. De facto, a morte traz consigo a ausência de alguém e, consequentemente, os sentimentos de dor associados a essa perda. As pessoas vivem agarradas a tudo o que têm, inclusivamente aos outros e a si próprias. Este apego gera uma angústia (elevada) face à inevitabilidade dum acontecimento irreversível. Ou nas palavras duma grande amiga minha: “as pessoas preocupam-se tanto em não morrer, que nem querem saber como vivem”.
O mal-estar gerado por este acontecimento é quase igualado pelo debate do mesmo. Desejar morrer é algo inaceitável numa sociedade que preza a vida como razão última. Recordo um momento do filme em que o pai do protagonista afirma: “pior do que ter um filho morto, é ter um filho que quer morrer”.
O direito à escolha deveria ser um bem essencial numa sociedade evoluída e livre.
A principal dificuldade, no que a este assunto diz respeito, é definir quais as “regras” que serão válidas para uma ou outra situação. Trata-se dum assunto melindroso e exaustivo e, também talvez por essa dificuldade, ainda não se tenha avançado mais neste campo.
Mas o direito a morrer e, consequentemente, a escolher condignamente a vida que se vive não deveveria ser um dos assuntos mais prementes a decidir?
(Nota: trata-se dum belíssimo filme em que a corajosa história de Ramon Sampedro é contada de forma comovente por Alejandro Amenábar e interpretada de modo magistral por Javier Bardem.)
sábado, 19 de novembro de 2011
La Piel Que Habito
Há pessoas que são génios nas respectivas áreas de actuação. É o caso do Sr. Almodovar no que toca à sétima arte.
Amodovar tem o dom de surpreender e exceder-se a cada nova película.
Esta não é excepção. La Piel Que Habito é um dos filmes mais singulares dos últimos anos.
Para além deste dom, Almodovar tem a capacidade de filmar os seus actores e actrizes duma forma única. Todos os personagens almodovarianos possuem particularidades que os tornam belíssimos. Elena Anaya está absolutamente deslumbrante e Banderas parece que se revigorou nesta película. Não sou capaz de me recordar da última vez que o vi, mas parece-me que ganhou anos de vida neste filme, tudo graças à precisão deste realizador ímpar.
É impossível descrever La Piel Que Habito. É uma experiência arrebatadora que cada um deve provar logo que possa, num cinema perto de si.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
The Ides Of March
Não é segredo que nos últimos anos os filmes feitos por ou com George Clooney são dum elevado interesse cultural. Mesmo para quem não seja particularmente fã do senhor (como é o meu caso) há que admitir que parece que ele nasceu para este tipo de papel e a sua apetência por filmes que abordam assuntos complexos e controversos transmite-se nas sucessivas apostas que tem feito.
The Ides Of March é mais um brilhante desafio no que concerne os meandros políticos e as entranhas humanas.
Para além de Clooney, o elenco é duma excelência elevada. Quer Paul Giamatti, quer Philip Symour Hoffman são dois actores geniais. E Ryan Gosling afirma-se mais uma vez como um dos melhores actores actuais. É Gosling que transporta o filme às costas; é no seu olhar que nos colocamos e nos revemos; é, aliás, no seu olhar (vincadamente diferente ao longo da película) que residem alguns dos melhores momentos.
Tive um Professor que dizia que “todos temos um preço”. Desengane-se quem pensa que não se inclui nesta afirmação, porque, efectivamente, todos temos um preço. Pode não se traduzir num valor monetário, mas numa crença ou ente querido; mas em última instância há sempre algo que não estamos dispostos a perder ou a abdicar.
Esta película demonstra de forma magistral o teor desta afirmação e o que pode acontecer quando as regras do jogo se invertem, ou quando somos apanhados num jogo que não queríamos (ou não estávamos aparentemente preparados para) jogar.
Um dos melhores filmes dos últimos tempos. Imperdível!
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
In Time
Vi este filme no dia de estreia (passada quinta-feira) e devo dizer que a premissa é bastante aliciante: num futuro (não muito distante) as pessoas vivem até aos 25 anos, ano a partir do qual a sua aparência não se altera e possuem apenas um ano de vida. Assim, todo o seu trabalho, todos os seus bens essenciais, todo o trading é realizado em tempo. As pessoas compram e vendem horas de vida para (sobre)viver.
Tendo em conta o ritmo de vida do mundo actual, esta temática não podia ser mais certeira para “os tempos que correm”. De facto, o tempo corre e nós corremos cada vez mais atrás dele. Trocamos horas de vida por um salário que nos permita viver confortavelmente, como gostamos de pensar. Assim, em última instância, o ideal será trocar horas de vida por algo em que acreditemos (façanha nem sempre possível no tempo presente).
Há quem diga que existem dois dramas do tempo moderno: a questão do tempo a menos e a problemática do tempo a mais.
Eu acho que o tempo nunca é demais. Simplesmente fomos criados e educados a um ritmo louco, em que possuir horas de vida para o dolce fare niente passam de sonho a pesadelo, de desejo a maldição, porque não fomos preparados para lidar com a abundância de tempo; apenas com a sua escassez.
O próprio filme demonstra que tempo a mais pode bem ser a pior praga que assola o ser humano - afinal é a irrepetibilidade e unicidade de cada momento que tornam a vida tão especial. No entanto, o ser humano tem tendência para buscar repetidamente a eternidade em cada coisa que faz.
Por muito tempo que tenhamos (ou que pareça que temos) verificamos (ou verificaremos) que se trata apenas duma ilusão que passa com brevidade, com a certeza de que nada permanece; sobretudo o tempo.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Monólogo ou Diálogo com a Morte em O Sétimo Selo
O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet) de Ingmar Bergman é um dos melhores filmes que já vi.
Esta cena é, particularmente, marcante.
Esta cena é, particularmente, marcante.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
The Bridges Of Madison County
Um dos mais belos filmes que já vi.
O gigante Clint Eastwood encontra a divina Meryl Streep (possivelmente, a melhor actriz de todos os tempos) num melodrama de dimensão mítica.
O filme mostra os momentos que marcam uma vida. Mostra a plenitude. Mostra o momento do desespero da abdicação. Mostra o momento da angústia da aceitação. Mostra o momento de não retorno.
Mas não mostra todo o processo de readaptação que cada um tem de passar, para se voltar a inserir numa realidade mais pobre, amarga e sombria. (Não que a realidade não houvera sempre sido a mesma, mas depois de determinadas vivências, aquilo que tínhamos como felicidade ou normalidade, parece-nos agora mais pobre, mais triste em contraste com os momentos que lhe precederam.) Não mostra a vida que fica após uma existência momentânea, mas esplendorosamente intensa. Não mostra as pequenas lutas diárias ao longo da sinuosa estrada da abdicação e da aceitação. Não mostra o após.
É esta a verdadeira magia do cinema, apenas mostrar a grandiosidade.
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