sábado, 26 de janeiro de 2013

Zero Dark Thirty


Zero Dark Thirty é um filme muito bem filmado, com elevada qualidade técnica e interpretações ferozes.

Jessica Chastain é uma das actrizes actuais mais promissoras e tem-nos oferecido inúmeras interpretações dignas de registo.
Kathryn Bigelow, para além de ter sido a única realizadora a ganhar um óscar da Academia, é das poucas que se aventura pelo sinuoso terreno da guerra.

Sendo assumidamente uma obra sobre o assassínio de Bin Laden, trata-se dum projecto arriscado que se habilita a tornar-se tendencioso e redutor. A história nunca pode ter apenas um lado (embora a grande maioria dos filmes seja isso mesmo), sobretudo quando se trata duma situação real. Isso é aceitável quando nos sentamos na cadeira da primária e escutamos a Professora a contar historinhas em que os bons somos nós e os maus são os outros que nos invadiram ou que nós invadimos. Porque quando somos crescidos, não só queremos mais, como merecemos mais.

Este filme demonstra que claramente não conhecemos a Al-Qaeda ou a Jihad, porque se assim o fosse talvez não fizesse sentido mostrarmos esta história em particular. Não é uma questão de certos ou errados, bons ou maus; é uma questão de veracidade, de realidade, de ser fidedigno às coisas como elas são. Muitos dirão: mas o filme é fidedigno, mostrando até as cenas de tortura. O filme tenta ser fidedigno e será até com a história que os seus criadores conhecem. Mas conhecer apenas esse lado da história é um pouco redutor. Por muito fiel que o filme seja a uma realidade, não o consegue na sua totalidade, porque esta realidade tem apenas um lado.
A arte também é isso: ser fiel à realidade e um filme que se baseia numa história verídica que só vê um lado da história torna-se pobre e incompleto.
Bigelow tenta à sua maneira contrapor o "nosso" lado da história a algumas questões que ficam no ar, nomeadamente o uso ou não de tortura: é ou não legítimo, faz ou não sentido usar determinados métodos como forma de prevenir ataques e/ou descobrir informações? E a vingança cega perpetrada por uma nação (ou por um lado do mundo) rasgado pela dor e a necessidade intrinseca que se sente de atribuir isso sempre a um especifico bode expiatório. Quando se é emotivo é dificil conseguir ser-se justo ou ver a "big picture". E essa busca desenfreada do culpado resolve tudo? Para onde ir a seguir?

Quantos mais Bins Ladens haverá para lá do que foi assassinado?

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