domingo, 27 de janeiro de 2013

Bordertown



Vi este filme há uns anos e fiquei profundamente marcada pela violência exercida contra as mulheres e sobretudo pela maneira como as sociedades vão fechando os olhos.
Os crimes de violência contra as mulheres não só são mais frequentes, como habitualmente são mais agressivos.

Bordertown é sobre uma rapariga mexicana que vive perto da fronteira com os Estados Unidos da América e é violada no regresso a casa do trabalho. O esquema é: ela apanha o autocarro já muito tarde (turnos da noite), o motorista deixa ficar toda a gente e, depois, pede para fazer um desvio para abastecerem e ele poder terminar o turno. Quando ela se apercebe está numa estrada isolada, o autocarro pára, o motorista agarra-a e surge um outro homem que a viola e mata. Os homicídios e violações sobre mulheres são recorrentes nesta zona do México, sendo que a maioria das jovens que sofrem este tipo de ataques são raparigas muito pobres que trabalham em fábricas de electrónica. A polícia e os órgãos decisores pouco ou nada fazem no sentido de erradicar estes crimes e punir os agressores.
A dita rapariga consegue sobreviver e o filme centra-se numa jornalista, interpretada por Jennifer Lopez, que anda a investigar estes casos.

Infelizmente, estas situações são reais e diárias e o filme denuncia essa realidade.
Acrescente-se que as tais fábricas junto à fronteira fabricam esses equipamentos electrónicos para serem vendidos nos Estados Unidos da América e permitirem assim aos seus fabricantes níveis de lucro mais elevados, pela exploração de mão de obra mais barata. As pessoas que trabalham nessas fábricas são extremamente pobres, de classes sociais muito baixas.

Estes casos revoltam as entranhas de qualquer pessoa. Não se compreende como um ser humano consegue ser tão cruel e maquiavélico com outro ser humano. Às vezes as pessoas lembram-me crianças, sem noção da realidade e/ou das consequências que os seus actos podem ter. Como quando se esmifra uma mosca apenas para explorar a sua natureza. Dá a sensação que alguns destes crimes são cometidos por seres profundamente inconscientes, que querem apenas explorar o corpo humano e os seus limites, recorrentemente de seres do sexo feminino, como se o corpo das mulheres fosse mais apelativo para ferir e profanar. Um prazer perverso e infantil de magoar e rasgar os corpos e os seres humanos que habitam nesses corpos, dum maneira irreversível. Só alguém inconsciente consegue esmagar assim, sem se lembrar das pessoas que amou, ou da irmã, ou da mãe, ou da filha, ou até mesmo de si próprio, corpo esse também passível de ser profanado de forma doentia e nojenta. 
Estará o mundo louco? Estará o mundo completamente perdido? Estarão estas pessoas amedontradas? Ou com necessidade de se exprimirem dessa forma violenta de tão reprimidas que estão?

Este filme é um olhar atento sobre a situação preocupante das mulheres mexicanas nesse distrito. Aquelas mulheres podiam ser portuguesas, chinesas, brasileiras ou de qualquer outro país do mundo, porque infelizmente essa violência ainda é uma realidade recorrente em todo o mundo. E, nessa medida, este filme é um pouco um reflexo dum mundo que ainda tem muito para evoluir. 

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