quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Django Unchained


Antes de mais sempre adorei Tarantino. De Reservoir Dogs a Kill Bill, passando por Jackie Brown ou Four Rooms, este realizador fascina-me com cada uma das suas histórias.
Este é, aliás, o contador de histórias cinematográfico por excelência. Em duas horas (ou neste caso em particular duas hora se quarenta minutos) consegue fazer-nos sentir a mais variada panóplia de emoções a trazer-nos uma história com um enredo extremamente apelativo que nos deixa acorrentados ao ecrã desde a primeira chicotada. Este Django Unchained não é excepção. É, aliás, um grande exemplo dessa característica tarantinesca de contar histórias sem perder o fôlego.

O Django do título, interpretado por Jamie Foxx, é um escravo que se vê libertado por um estranho "dentista" (brilhantemente interpretado por Christoph Waltz) e descobre no ofício de "caçador de prémios" uma nova vocação e uma forma de se tornar "Siegfried".
Esta dupla inesperada terá de enfrentar algumas provas pelo caminho.
Começando pelo "Big (Don Johnson de chorar a rir) Daddy" a passar por um grupo de espingardeiros "zarolhos" (dando vida a uma das cenas mais hilariantes do filme), culminando em CandieLand, onde Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson nos vão arrepiar de medo e gargalhadas até ao final.
DiCaprio é um dos melhores actores da actualidade, com um vasto leque de personagens, de âmbitos extremanente variados, mas sempre de elevada qualidade. Aqui, como Calvin Candie, brinda-nos com uma interpretação magistral que simultaneamente deslumbra e arrepia. O guarda-roupa do filme é brilhante e tem nesta personagem (e em particular nos coletes escolhidos) o expoente máximo da personalidade por via do que se veste (e, nesse sentido, um pequeno revés no final).
Cristoph Waltz está perfeito. Este actor é (tal como L. Jackson) um exemplo de alguém que se encaixa de forma absoluta e milimétrica nos textos de Tarantino. Não é à toa que está nomeado novamente com um filme deste realizador para melhor actor secundário (havendo vencido em 2009 com Inglorious Bastards). Samuel L. Jackson dá vida a uma das personagens mais odiosas e hilariantes do filme. Os momentos iniciais em que aparece e algumas das suas deixas fazem-nos soltar descompostas gargalhadas.

Tarantino, para além dos argumentos divinais, traz-nos sempre sequências marcantes e imagens inesquecíveis, como o jogo de  cores do branco manchado de vermelho; para as quais contribui decisivamente a música escolhida a dedo para cada cena.
Então em quê que Tarantino não é bom? A representar. O talento que tem, quer como realizador, quer como argumentista, esbate-se de imediato como actor, com os seus trejeitos (ou faltas de jeito) que lhe dão um ar labrego (que neste caso poderá assentar que nem uma luva).
Com a mestria de realizador, Tarantino vai-nos levando de cena em cena através do terror da escravatura (no qual os mandingo e os cães de "caça" representam a enorme crueldade de muitas abominações que foram cometidas) e da sede de sangue/resgate/vingança.

A Humanidade quer esquecer algum dos actos mais aterradores da sua história e é bom que a arte exista e se exprima no sentido de nos recordar do que a nossa natureza é capaz. É ainda melhor quando se consegue fazer isso de forma algo descontraída e com o teor de entretenimento em pano de fundo (caso de Django Unchained ou de Inglorious Bastards). Se quisermos efectivamente pesquisar essas situações deveremos tentar fazê-lo através dos registos históricos (caso existam) ou através duma obra artística (cinema, pintura, fotografia) que seja o mais fiel possível à realidade. O Holocausto, o Massacre de Nanjing, os Killing Fields no Cambodja, os confrontos no Ruanda, o regime no Uganda, apenas para citar alguns dos mais recentes, são atrocidades que existiram, seres humanos que cometeram actos aterradores para com outros seres humanos e infligiram dor, sofrimento e crueldade em pessoas. Aquelas pessoas podiam ser qualquer um de nós. É bom que a Humanidade não esqueça. Mas é bom que se tenha em linha de conta que este filme é apenas uma obra de entretenimento que tem como palco um momento histórico menos afortunado. Tudo o resto é ficção (para o bem e para o mal).

Django Unchained é um explosivo momento de descontracção que fere o espectador a cada gargalhada.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Bordertown



Vi este filme há uns anos e fiquei profundamente marcada pela violência exercida contra as mulheres e sobretudo pela maneira como as sociedades vão fechando os olhos.
Os crimes de violência contra as mulheres não só são mais frequentes, como habitualmente são mais agressivos.

Bordertown é sobre uma rapariga mexicana que vive perto da fronteira com os Estados Unidos da América e é violada no regresso a casa do trabalho. O esquema é: ela apanha o autocarro já muito tarde (turnos da noite), o motorista deixa ficar toda a gente e, depois, pede para fazer um desvio para abastecerem e ele poder terminar o turno. Quando ela se apercebe está numa estrada isolada, o autocarro pára, o motorista agarra-a e surge um outro homem que a viola e mata. Os homicídios e violações sobre mulheres são recorrentes nesta zona do México, sendo que a maioria das jovens que sofrem este tipo de ataques são raparigas muito pobres que trabalham em fábricas de electrónica. A polícia e os órgãos decisores pouco ou nada fazem no sentido de erradicar estes crimes e punir os agressores.
A dita rapariga consegue sobreviver e o filme centra-se numa jornalista, interpretada por Jennifer Lopez, que anda a investigar estes casos.

Infelizmente, estas situações são reais e diárias e o filme denuncia essa realidade.
Acrescente-se que as tais fábricas junto à fronteira fabricam esses equipamentos electrónicos para serem vendidos nos Estados Unidos da América e permitirem assim aos seus fabricantes níveis de lucro mais elevados, pela exploração de mão de obra mais barata. As pessoas que trabalham nessas fábricas são extremamente pobres, de classes sociais muito baixas.

Estes casos revoltam as entranhas de qualquer pessoa. Não se compreende como um ser humano consegue ser tão cruel e maquiavélico com outro ser humano. Às vezes as pessoas lembram-me crianças, sem noção da realidade e/ou das consequências que os seus actos podem ter. Como quando se esmifra uma mosca apenas para explorar a sua natureza. Dá a sensação que alguns destes crimes são cometidos por seres profundamente inconscientes, que querem apenas explorar o corpo humano e os seus limites, recorrentemente de seres do sexo feminino, como se o corpo das mulheres fosse mais apelativo para ferir e profanar. Um prazer perverso e infantil de magoar e rasgar os corpos e os seres humanos que habitam nesses corpos, dum maneira irreversível. Só alguém inconsciente consegue esmagar assim, sem se lembrar das pessoas que amou, ou da irmã, ou da mãe, ou da filha, ou até mesmo de si próprio, corpo esse também passível de ser profanado de forma doentia e nojenta. 
Estará o mundo louco? Estará o mundo completamente perdido? Estarão estas pessoas amedontradas? Ou com necessidade de se exprimirem dessa forma violenta de tão reprimidas que estão?

Este filme é um olhar atento sobre a situação preocupante das mulheres mexicanas nesse distrito. Aquelas mulheres podiam ser portuguesas, chinesas, brasileiras ou de qualquer outro país do mundo, porque infelizmente essa violência ainda é uma realidade recorrente em todo o mundo. E, nessa medida, este filme é um pouco um reflexo dum mundo que ainda tem muito para evoluir. 

sábado, 26 de janeiro de 2013

Zero Dark Thirty


Zero Dark Thirty é um filme muito bem filmado, com elevada qualidade técnica e interpretações ferozes.

Jessica Chastain é uma das actrizes actuais mais promissoras e tem-nos oferecido inúmeras interpretações dignas de registo.
Kathryn Bigelow, para além de ter sido a única realizadora a ganhar um óscar da Academia, é das poucas que se aventura pelo sinuoso terreno da guerra.

Sendo assumidamente uma obra sobre o assassínio de Bin Laden, trata-se dum projecto arriscado que se habilita a tornar-se tendencioso e redutor. A história nunca pode ter apenas um lado (embora a grande maioria dos filmes seja isso mesmo), sobretudo quando se trata duma situação real. Isso é aceitável quando nos sentamos na cadeira da primária e escutamos a Professora a contar historinhas em que os bons somos nós e os maus são os outros que nos invadiram ou que nós invadimos. Porque quando somos crescidos, não só queremos mais, como merecemos mais.

Este filme demonstra que claramente não conhecemos a Al-Qaeda ou a Jihad, porque se assim o fosse talvez não fizesse sentido mostrarmos esta história em particular. Não é uma questão de certos ou errados, bons ou maus; é uma questão de veracidade, de realidade, de ser fidedigno às coisas como elas são. Muitos dirão: mas o filme é fidedigno, mostrando até as cenas de tortura. O filme tenta ser fidedigno e será até com a história que os seus criadores conhecem. Mas conhecer apenas esse lado da história é um pouco redutor. Por muito fiel que o filme seja a uma realidade, não o consegue na sua totalidade, porque esta realidade tem apenas um lado.
A arte também é isso: ser fiel à realidade e um filme que se baseia numa história verídica que só vê um lado da história torna-se pobre e incompleto.
Bigelow tenta à sua maneira contrapor o "nosso" lado da história a algumas questões que ficam no ar, nomeadamente o uso ou não de tortura: é ou não legítimo, faz ou não sentido usar determinados métodos como forma de prevenir ataques e/ou descobrir informações? E a vingança cega perpetrada por uma nação (ou por um lado do mundo) rasgado pela dor e a necessidade intrinseca que se sente de atribuir isso sempre a um especifico bode expiatório. Quando se é emotivo é dificil conseguir ser-se justo ou ver a "big picture". E essa busca desenfreada do culpado resolve tudo? Para onde ir a seguir?

Quantos mais Bins Ladens haverá para lá do que foi assassinado?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Silver Linings Playbook



Silver Linings Playbook é um filme agradável, mas mediano.
A premissa é interessante, mas há algo que falta no filme.
Apesar dos actores serem todos eles excelentes, falta uma certa veracidade, provavelmente por falha do argumento.

Bradley Cooper nem parece o apetecível actor que nos faz cócegas habitualmente com as suas sorridentes covinhas. Está inconformado, desesperado, confuso.
Robert De Niro, igual a si mesmo, sempre em interpretações do mais alto nível.
Jackie Witt numa interpretação discreta e singela, mas com quem facilmente sentimos empatia e ternura.
Jennifer Lawrence é uma das actrizes mais promissoras da sua geração e tem tudo para ser a melhor, dá-nos aqui uma interpretação poderosa que arrebata o ecrã sempre que aparece, eclipsando tudo e todo.

É um filme que nos mostra o quão importante é termos uma paixão ou um hobbie e quanto nos dedicarmos a essa actividade nos traz uma certa paz. Esse escape pode ser o nosso ponto de fuga ou a nossa inspiração para nos tornarmos mais calmos, mais alegres, mais disciplinados.
A criatividade como rendição e factor decisivo para libertarmos as nossas frustrações e tristezas, nos confrontarmos connosco próprios e nos reinventarmos.

Então, o que falta neste filme? Ritmo, talvez. Maior veracidade nas situações em que os actores se vêem inseridos, um argumento mais verosímel.
E apesar de Silver Linings Playbook ser um filme agradável, não passa duma sessão de domingo à tarde.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

The Impossible


The Impossible retrata a corajosa e inspiradora história verídica duma família que sobreviveu ao tsunami na Tailândia em Dezembro de 2004.

Brilhantemente filmado, nomeadamente as sequências da tragédia. A água é um dos elementos mais poderosos: em fúria arrasta tudo sem distinguir seres humanos, árvores, animais, carros, edifícios, ou tudo o que se atravessar no seu caminho. A sua densidade consegue suportar e misturar de forma aleatória e violenta tudo o que albergar no seu caos (cenário nada atractivo para algo tão frágil como um ser humano), característica esta bem patente em imagens confusas e aterradoras.

Ewan McGregor é um excelente actor, capaz dos mais diversos universos, como o demonstra uma vez mais.
Naomi Watts é uma das melhores actrizes actuais, tão versátil como arrasadora em cada desafio, particularmente poderosa neste papel.
Tom Holland é um jovem extremamente talentoso e surpreendente. 
Samuel Joslin é um actor promissor. 

The Impossible relembra-nos da nossa pequenez. Não somos nada. E perdemos tempo com coisas que ainda menos do que nada são. Estamos à mercê da Natureza. Estamos aqui, apenas e tão só, por benevolência da Natureza. Estas catástrofes relembram-nos do que é realmente importante. Redefinem-nos as prioridades. É impossível imaginar o que passaram todas aquelas pessoas; todas as pessoas que em algum momento da vida se virão no seio da Natureza em revolta. Todos os sobreviventes ficam marcados. Parece também impossível a história particular desta família, que se não fosse a realidade diria mesmo que só poderia ser filme. É duma combinação de acontecimentos absolutamente improvável e, simultaneamente, carregada de algum inexplicável sentido.

The Impossible é um filme imperdível!

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

The Sessions



É tão raro e tão bom ver filmes assim.

The Sessions  é sobre a força e a preserverança dum ser humano. Sobre a sua fé e o seu direito a viver a vida que escolheu com uma capacidade de alma ilimitada, independentemente das limitações inerentes ao seu corpo.

Os actores são a grande inspiração deste filme (e não o são em todos?), levando-nos do riso às lágrimas, numa sinfonia perfeita.
É magnífico rever Helen Hunt, sobretudo num papel tão exigente e inspirador como este. Hunt tem uma interpretação generosa, difícil de esquecer.
John Hawkes tem também aqui um papel notável, levando-nos com doçura ao longo de todos aqueles estados de espírito, sentimentos contraditórios e dificuldades físicas.
William H. Macy está perfeito como Padre, dando alguma veracidade às cenas mais hilariantes.
Vera Bloodgood tem também aqui uma interpretação muito interessante, deixando-nos com vontade de a voltar a ver.

O melhor professor é efectivamente a experiência. Há coisas que não se conseguem explicar, ou reproduzir. Só mesmo sentir. “Pensar é estar doente dos olhos.” The Sessions é também um filme sobre a força das palavras, que muitas vezes são a única forma de materializar ou complementar o que se sente.



"Let me touch you with my words
For my hands lie limp as empty gloves
Let my words stroke your hair
Slide down your back and tickle your belly
Ignore my wishes and stubbornly refuse to carry out my quietest desires
Let my words enter your mind bearing torches."

Holy Motors



Holy Motors… O que dizer deste filme?

Vou começar pela primeira sensação que o filme deixa: ódio. Sim: ódio! O filme é odioso, porque nos questiona sobre uma série de coisas que é suposto existirem e fazerem ou (darem sentido à) vida. Nessa medida, é nojento pela maneira como somos levados dum cenário para outro, dum personagem para outro até àquele final pateta e atrevido. Afinal o que é isto? Quem é este ousado Leos Carax que nos confronta com tudo o que temos como certo, tudo o que temos, tudo o que somos? Afinal quem somos?

Sai-se do cinema com uma sensação pesada, como se nos tivessem questionado tudo, como se nada fizesse sentido, como se o filme fosse uma série de nonsense, cenas e cenas, umas atrás das outras que se vão sucedendo sem aparente lógica ou sentido. O filme é genial: sim. É genial pela sua originalidade.

Passados uns dias, depois de digerir o filme (porque este é um daqueles filmes que precisa de algum – muito – tempo para ser digerido) permanece a genialidade do filme e aqueles sentimentos de ódio e nojo vão-se esbatendo. Vão-se esbatendo no ridículo do dia-a-dia, esbatendo-se no sentido de humor (algo negro) que acompanha o filme e que fica na memória. Esbatendo-se nos risos e sorrisos diários. E se tudo é nonsense resta-nos algo mais do que a alegria? Do que rirmo-nos de nós e de todo este espectáculo que criámos?

Denis Lavant tem aqui uma interpretação notável, imensa como a vida. Primeiro é o rosto que odiamos, desdenhamos. Depois, gradualmente, é o rosto que compreendemos, com quem nos identificamos, que aceitamos e com quem nos rimos.

Holy Motors é um filme que vai fundo. E isso dói. Não tem meio termo: ou se adora, ou se odeia.
Perturbador!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Argo


Ben Affleck tem vindo a surpreender, pelo menos a mim que nunca fui grande fã do actor. Para além das suas interpretações estarem a ficar cada vez mais maduras, revelando um talento que não lhe conhecia; a sua prestação como realizador tem-nos trazido mais do que agradáveis surpresas: filmes de referência.
The Town foi um filme surpreendente de elevada qualidade que deslumbrou quem o viu. Em Argo, Affleck vai ainda mais longe e avança para o patamar seguinte, onde apenas entram filmes de merecido destaque e o espectador é raptado pelo ecrã.
Argo é baseado numa história verídica, já de si curiosa e alucinante. Argo era o título fingido dum filme que nunca existiu. Foi o cinema com toda a sua farsa e fascínio que permitiu que salvar aquelas pessoas passasse de miragem a missão.
É um filme que nos remete para os conflitos do mundo, para o "estar no local errado à hora errada" ou a sua antítese. Remete-nos para  as mudanças radicais que o nosso pequeno mundo diário pode sofrer, para as consequências inimagináveis duma multidão enfurecida. É um filme sobre a esperança no meio do caos. Sobre a instabilidade de locais onde o radicalismo impera. Sobre uma missão que parecia impossível, mas que o cinema com toda a sua arte do fingimento viabilizou.
Excelentes interpretações de todos os actores e rigoroso trabalho de realização torna Argo um dos melhores filmes do ano.

Jack Reacher


Apesar de haver uma antipatia geral pelo Tom Cruise de há uns anos para cá (provavelmente ligada a alguns radicalismos associados à vida privada do actor), eu nunca partilhei dessa opinião. Aliás, quando era miudinha tinha uma paixoneta por este actor: não sei como, mas o que é certo é que não deixei de gostar do seu trabalho. Tom Cruise é um actor talentoso e com capacidades para qualquer tipo do filme, ao contrário do que se pensa. Simplesmente 90% dos filmes em participa são de acção, no qual este Reacher se enquadra. Esse facto descredibiliza o actor, para muitos. Mas não tenho dúvidas de que está à altura quer dum tocante drama, quer duma comédia genial. No entanto, tende a optar por divertidos filmes de acção que no máximo nos surpreendem e nos proporcionam agradáveis gargalhadas e no mínimo nos fazem passar um serão ou uma tarde de domingo agradáveis. Efectivamente, o género acção dificilmente consegue ser um filme com a profundidade de tantos outros.
Jack Reacher é um filme de acção. É um filme de acção agradável, divertido e descontraído. Não traz nada de novo, mas consegue surpreender, quer pela irreverente personagem e a sua maneira de encarar o mundo, quer pelo enredo, quer pelas interpretações. Reacher é um outsider por vontade própria. É um "desobediente civil" dos dias que correm, um Henry David Thoreau cinematográfico e próprio duma geração fast, em que a parte filosófica é apenas abordada como pano de fundo.
Nevertheless o entretenimento que este filme proporciona não só está muito bem conseguido, como ainda dá umas voltas, não tão perceptíveis nos primeiros instantes. E, sendo eu uma das pessoas abrangidas pela dita geração não podia ter deixado de me divertir.
Gostei deste herói. Achei interessante e bem disposto. Uma excelente escolha para um domingo à tarde.

Não recomendável para quem não simpatizar com Cruise.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

The Paperboy


The Paperboy é um filme brilhante e original que arrebata quem o vê.
Um enredo misterioso e interessante, nas profundezas pantanosas duma Florida escaldante no Verão de 69, agarra desde o primeiro instante.
Para além da história sumarenta que se nos apresenta, com a voz de fundo de Macy Gray, também quem lhe dá vida não poupa esforços para a tornar o mais apetitosa possível.

Nicole Kidman relembrou-me o seu papel em To Die For, um dos filmes em que mais brilhou. À semelhança dessa Suzanne também Charlotte quer muito uma coisa e está disposta a tudo para a conseguir. Há inclusivamente uma cena de dança à chuva como havia no anterior papel. Kidman tem aqui um desempenho notável e arrebatador. No entanto, Charlotte ao invés de Suzanne não está plenamente consciente do dito popular "be careful what you wish for".
Também John Cusack e Matthew McConaughey têm aqui interpretações muito bem conseguidas. Prendem o espectador de cada vez que furam o ecrã.
Macy Gray não só está à altura do seu papel, como parece ter os requisitos para se tornar uma grande actriz.
E, por último, Zac Efron surpreende. Desconhecia este actor e a sua prestação é surpreendente. A timidez, a ira, o encantamento; todas estas emoções são transmitidas duma maneira muito natural.

O clima quente da história e do espaço é-nos transmitido quer pelo constante suor das personagens, quer pelas cores usadas pela fotografia, que nos transportam de imediato para paisagens pantanosas e escaldantes, onde os nervos e o desejo vivem à flor da pele.

The Paperboy deixa uma sensação amarga da boca, crua como a verdade. Mas vale a pena saborear cada segundo deste suculento pedaço de entretenimento.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Another Happy Day


Another Happy Day não é um filme divinal, nem tão pouco é a comédia que o trailer promete.
É um drama bem construído, com actores de grande talento e uma história relativamente interessante.
Ellen Barkin é a mãe duma família não muito funcional. Começa a dirigir-se para casa dos pais onde será o casamento do filho. Ao conhecermos os restantes elementos deste núcleo familiar percebemos de imediato donde vem a disfunção: Ellen Burstyn tem aqui mais uma brilhante interpretação.
São as duas Ellens o grande motor deste filme, embora as interpretações quer do ex-marido (Thomas Hayden Church) quer dos filhos (em especial de Kate Bosworth e Ezra Miller) estão também muito bem conseguidas.

O filme mostra-nos a história duma família com todos os seus dramas e pequenos tudo/nada que criam ou apagam os laços entre as pessoas. As afinidades que cada um tem com os diferentes membros do agregado, espelha sobretudo a sua própria maneira de estar.

Este filme chegou às salas já com algum atraso (visto ser de 2011), mas como diz a sabedoria popular "mais vale tarde do que nunca". Another Happy Day é um filme que vale a pena espreitar.

sábado, 5 de janeiro de 2013

On The Road


Já o disse antes e volto a repetir: "os actores são feitos da mesma matéria de que são feitos os sonhos". Shakespeare não podia estar mais certo. Um leque de bons actores pode tornar um argumento fraco em algo que se consegue consumir (às vezes até com algum prazer), tal como uma carrada de maus actores pode arruinar completamente um bom argumento.

On The Road está a meio. Não considero o filme bom: tenta ser fiel ao livro, mas arrasta-se em cenas demasiado longas que lhe retiram o brilhantismo. Mas a machadada final que torna o filme fraco são os actores. Não me refiro obviamente a Viggo Mortensen, Amy Adams ou Steve Buscemi, que têm interpretações tão boas, como curtas. Não entram mais do que cinco minutos em cena, pelo que não conseguem ter impacto relevante. Não me refiro também à sempre brilhante Kirsten Dunst, que salva algumas das cenas do filme. Refiro-me ao trio de actores principais, que estragam completamente todo o sentido do filme com os seus maneirismos e fracos desempenhos. Não quero ir tão longe ao ponto de dizer que qualquer um deles deveria desistir de representar (embora no caso da actriz isso pudesse salvar alguns filmes). A verdade é que talvez também não tenham sido bem dirigidos. A prestação do realizador é fraca, quer na montagem, quer na direcção de actores.
As ideias são muito boas, mas há algo que falha.

Tenho pena que um livro desta envergadura seja adaptado ao cinema desta forma, porque é suposto o cinema fazer-nos sonhar - sobretudo se é baseado numa obra de enorme valor. Este filme apenas nos consegue desencantar: going nowhere.