quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Zombie Ass


Há filmes que entram directamente para a lista dos piores que vimos, mas há alguns que vão de imediato para o primeiro dos últimos. Posso dizer com toda  certeza que este foi um dos piores filmes que vi (e se não fossem as gargalhadas - porque aquilo só dá para rir - diria que foi o pior).
Este é literalmente um filme de bosta. Não recomendável a estômagos fracos.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

FantasPorto


Sim, sim: eu sei!!! Semana de Fantas no Porto - já lhe devia ter dedicado algumas linhas... Sobretudo porque na quinta fui ver um dos filmes (que em breve comentarei), mas fiquei tão abananada com o espectáculo que as palavras se esgotaram...
Esta é a época em que o Porto se enche de magia, invadido pelo cinema fantástico.
Abriu com um filme que estreia na próxima quinta (e que aguardo ansiosamente porque não vi na passada sexta) de nome Shame. E trouxe de novo esse mítico e fantástico filme de Ridley Scott: Blade Runner. Porque o futuro é agora!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

2012: And The Winner Is


Nunca pensei que a Academia fosse realmente atribuir o prémio máximo a uma produção franco-belga, a preto e branco e com música como único ruído. Parece que Jorge Leitão Ramos tinha razão e o The Artist foi mesmo o filme da noite.
Num ano com pelo menos três filmes duma genialidade imensa, em que dois deles são homenagem à mais bela das artes, os cinéfilos deste mundo (opiniões à parte) não podiam estar mais felizes!!!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

2012: And The Oscar Goes To...


E chegou uma das noites mais esperadas do ano, no mundo cinematográfico: a atribuição dos Óscares da Academia.
Este ano é a 84ª cerimónia desde que os prémios começaram a ser entregues.
Os Óscares valem o que valem (mesmo que viva mil anos não conseguirei compreender como deram o Óscar de melhor actor secundário a Tommy Lee Jones pelo The Fugitive e não a Ralph Fiennes pelo Schindler's List (ou até mesmo a qualquer um dos restantes actores nomeados, o que inclui Ben Kingsley também no filme de Spielberg)), mas independentemente do que as pessoas do meio cinematográfico digam (que normalmente tendem a desvalorizar o prémio, sobretudo se já tiverem um...) ou os admiradores de cinema pensem, é sempre um momento esperado que muitas vezes espelha alguns dos filmes de elevada qualidade do ano em questão (e, consequentemente, a enorme lista de "esquecidos" de igual calibre). Ansiados secretamente ou esperados com expectativas, os Óscares são um acontecimento.

Esta época é caracterizada pelas apostas e opiniões de cada um e, como tal, O Cantinho não será excepção.
Estes prémios resumem-se a opiniões. Os que consideramos os melhores podem ou não ser considerados pela Academia ou pelos restantes admiradores da sétima arte. Por isso não irei desancar nos que gostei menos (Hello!!! Jorge Leitão Ramos que escreveu ontem um artigo dedicado ao tema na revista Actual do Expresso); ainda não sabemos se o The Artist vai ou não ganhar e, além disso, muitos de nós consideram Dujardin (bastante) superior a Clooney (ok: eu sou suspeita porque considero as interpretações de Clooney sempre semelhantes e insípidas). E também não irei fazer longas dissertações sobre todas as categorias, até porque sou uma leiga na maioria delas (senão mesmo em todas..), nem irei fazer comentários do tipo "o actor d'O Artista é desconhecido e, como tal, não vai ganhar" (Hello!!! jornalista que falava hoje pelas 15h na Antena 3); o Senhor Dujardin é um dos comediantes mais conhecidos da Europa, embora desconhecido para o grande público, tem uma longa carreira e é extremamente popular em França, já para não falar do seu enorme talento, vezes e vezes sem conta demonstrado.

O chamado Full Five: Filme, Realizador, Actor, Actriz e Argumento (até hoje apenas atingido por três filmes da história: It Happened One Night, One Flew Over The Cuckoo's Nest e Silence Of The Lambs), serão porventura os mais emblemáticos e mais familiares do grande público e, como tal, serão os únicos (e respectivas variantes) em que me irei debruçar.

E as minhas apostas são:

Filme: Hugo
Realizador: Martin Scorsese - Hugo
Actor Principal: Jean Dujardin - The Artist
Actriz Principal: Glenn Close - Albert Nobbs
Argumento Adaptado: Alexander Payne, Nat Fazon & Jim Rash - The Descendants
Argumento Original: Michel Hazanavicius - The Artist
Actriz Secundária: Janet McTeer - Albert Nobbs
Actor Secundário: (Tendo em conta que ainda não vi o Warrior nem o Extremely Loud & Incredibly Close) Christopher Plummer - The Beginners

E se fosse eu a decidir:


Filme: The Tree Of Life
Realizador: Martin Scorsese - Hugo
Actor Principal: Jean Dujardin - The Artist
Actriz Principal: Michelle Williams - My Week With Marilyn
Argumento Adaptado: John Logan - Hugo
Argumento Original: Michel Hazanavicius -The Artist
Actriz Secundária: Bérenice Bejo - The Artist
Actor Secundário: (Tendo em conta que ainda não vi o Warrior nem o Extremely Loud & Incredibly Close) Christopher Plummer - The Beginners


Mais logo já iremos descobrir o que os membros da Academia nos reservaram para hoje.
And the winner is...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Nobody


"Nobody ever lies about being lonely."
Robert Lee E. Prewitt (Montgomery Clift) - From Here To Eternity

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Time Is Luck


"Once I had a fortune. It said: "Live now. Life is short. Time is luck."
Isabella (Li Gong) - Miami Vice

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

The Iron Lady


Goste-se ou não Margaret Tatcher foi, inegavelmente, uma mulher que ficou para a história.
Este The Iron Lady visa debruçar-se um pouco sobre a vida e obra desta grande senhora.
Não se trata dum filme genial, mas o essencial é conseguido. A interpretação de Meryl Streep é arrebatadora, como aliás sempre o é.
Tatcher foi uma mulher corajosa que desafiou o seu tempo - facto que no filme se poderia resumir à Casta Diva de Norma ouvida repetidamente ao longo de cenas diferentes. Foi uma mulher que contra todas as convenções duma época teve coragem de agir de acordo com aquilo em que acreditava. Diz-se que para uma mulher ser considerada tão competente como um homem tem de trabalhar o dobro. Apesar das mulheres terem vencido tantas barreiras no mundo ocidental, ainda há um longo caminho a percorrer. Tatcher abriu caminho para muitas mulheres, um exemplo de força e perseverança. Obrigada a ela e a tantas e tantas e tantas outras que foram abrindo um bocadinho mais a porta da liberdade.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Inséparables


"Les doutes et l'amour sont deux choses inséparables."
Marie Vallières de Beaumont (Marion Cotillard) - Le Dernier Vol

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Le Dernier Vol



Le Dernier Vol é um filme baseado na história verídica de Marie Vallières de Beaumont que em 1933 procura no deserto do Sahara o seu amante Bill Lancaster um aviador inglês que tentava bater o recorde de velocidade entre Londres e a Cidade do Cabo e que tem um acidente durante a travessia.
Bill e Marie eram ambos aviadores, tendo vivido inúmeras aventuras juntos.

Embora o filme seja de 2009, apenas agora estreou (muito discretamente) nas nossas salas (no comments). As interpretações de Guillaume Canet e Marion Cotillard são extraordinárias (como seria de esperar). 

Le Dernier Vol é também uma história sobre perserverança e esperança.
O amor faz com que as pessoas acreditem no inacreditável, creem no impossível.
Numa das cenas Antoine pergunta a Marie se atravessou continentes, viveu aventuras e arriscou tanto por ela ou por Bill. As pessoas arriscam por si próprias. É uma ilusão achar que as decisões que tomamos são por alguém que não nós próprios. Simplesmente o amor dá a força e a coragem que parece tantas vezes faltar, quando se fala em arriscar. E simultanemante o amor é o maior risco, o maior passo de fé que se pode dar.

O deserto é um lugar mágico, o absoluto. Sempre que o tema é deserto, recordo-me destas palavras:

"Um Desejo De Nada

Fui onze vezes ao deserto do Sahara. Nos últimos anos, tenho ido sempre, pelo menos uma vez por ano, assim como outros vão a Fátima ou outros a Paris. A devoção tornou-se assim uma espécie de obsessão, aos olhos dos amigos ou dos estranhos: perguntam-me frequentemente o que é que eu lá procuro e o que é que encontro. E a esta pergunta, tão simples e tão vasta, costumo dar uma das minhas respostas preferidas: não procuro nada e não se encontra o que se procura, mas o que se encontra. De vez em quando, forçado a explicar-me melhor, falo da paisagem inicial e despojada do deserto, ou da viagem interior que ali acompanha a outra viagem. Mas não passam de lugares-comuns, próprios de quem não sabe a resposta ou, no subconsciente, não deseja partilhá-la com os outros.
O que é que se procura num deserto? Por definição, nada. O deserto é a ausência de tudo. É esse, afinal, o segredo desta estranha atracção: a ausência de tudo equivale ao princípio de tudo, como uma página em branco. Por isso, as minhas recordações mais marcantes do Sahara estão ligadas sempre a coisas incrivelmente simples: um copo de água gelado, oferecido por um médico da Frente Polisário, num hospital de campanha do Sahara Ocidental, com uma temperatura de 60º centígrados lá fora; uma noite deitado numa duna de areia, no extremo sul argelino, entre um silêncio absoluto, a ver passar os satélites de telecomunicações no céu, a olho nu; ou outra fantástica noite no sul de Marrocos, numa tenda berbere de um abrigo para viajantes, debaixo de uma tempestade de areia desencadeada subitamente, dormindo e acordando ao som do vento rugindo em fúria descontrolada e coberto de areia da cabeça aos pés.
Não se encontra o que se procura, mas o que se encontra. Encontrei uma vez uma víbora preta, debaixo de um tanque marroquino destruído na guerra com a Polisário; encontrei um escorpião branco da areia, sinistro e pequeno assassino, a um metro das minhas costas, quando me preparava para dormir num velho forte abandonado; encontrei um antílope que corria ao longe, no meio da extensão sem fim das dunas do Grande Erg Ocidental, e uma noite encontrei um pássaro enorme, que parecia um faisão e que, saído de parte alguma, se veio esborrachar contra os faróis do jipe, oferecendo-se em inesperado jantar. E encontrei gente que só ali se encontra - o Ahmed, o Sidi, o Mohamed «Pás de Problème», o Ali e outros, europeus como eu e, tal como eu, à procura de coisa alguma. E encontrei duas mulheres berberes com um burro, num poço, no meio do nada. A mais nova era muito bonita e tinha uma criança ao colo. Dei-lhe os habituais presentes e perguntei-lhe por gestos se a podia fotografar. Ela fez um sorriso de pura sedução, abriu a roupa, tirou o peito para fora e começou a fingir que dava de mamar à criança, que não tinha fome nenhuma: fiz-lhe uma verdadeira fotografia erótica.
Mas o deserto raras vezes é aquela coisa sempre poética e deslumbrante do filme do Bertolucci, com dunas cor-de-rosa e vermelhas ao pôr-do-sol. A maior parte das vezes, longe das caravanas de camelos para os turistas da «photo opportunity», é um terreno áspero, duro, feito de calhaus e terra escurecida, sem árvores, sem dunas, sem pássaros, sem água nem rios, sem nenhum sinal de vida - como uma Lua debaixo do Sol. A progressão lenta e massacrante, a paisagem é monótona e triste, as jornadas são esgotantes e vazias de acontecimentos: tudo nos faz desesperar por um acampamento ao fim do dia, dois litros de água para limpar o pó da cara e da cabeça, uma lareira, uma sopa quente, uma conversa que engane as saudades de casa.
Porquê, então, este desejo veemente de deserto, esta vontade de nada, de vazio absoluto, esta viagem ao mais fundo de nós mesmos - lá, onde não resta sombra de arrogância, do orgulho, e da sabedoria que julgamos ter? Talvez (vou enfim arriscar uma resposta...) porque ali estamos a sós com o Absoluto, ali, se os Deuses existem, é o mais próximo deles que podemos estar, porque ali reside, mesmo que jamais o decifremos, a chave para o eterno enigma da Criação. É ali que começa a vida, é o nosso útero, o princípio de todas as coisas. Só então ficamos a saber que tudo o resto são circunstâncias."

Miguel Sousa Tavares


sábado, 18 de fevereiro de 2012

Música de Malèna

A melhor música de sempre adorna momentos retirados dessa obra carregada de voyeurismo que é Malèna.
Uma melodia que transmite o desabrochar e que arrepia de cada vez que se escuta:

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Hugo


Há uns dias referi que se fosse membro da Academia, este ano estaria em sérias dificuldades para decidir entre The Artist e The Tree Of Life. Gostaria de rectificar o que disse: estaria entre extremamente sérias dificuldades para decidir entre os dois filmes anteriormente citados e este magnífico Hugo.
Três filmes tão diferentes e, no entanto, tão geniais.
The Tree Of Life é um poema em forma de filme (como Malick nos vem habituando) que se debruça sobre o sentido da vida, a profundeza da alma, a simbiose natureza/graça em relação ao universo.
The Artist é duma originalidade refrescante, numa homenagem ao cinema realizada de forma singular e genial.
Hugo é uma aventura apaixonante e é um filme mágico que encantará todos.
Dirigido por Scorsese, este filme é dum registo completamente diferente ao que este mestre da realização nos habituou, não deixando por isso de possuir a elevada qualidade com que sempre nos brinda.
Hugo é uma história singular, sobre um rapaz especial.
A caracterização é perfeita, tal como os actores, os cenários e a música.
É um filme que homenageia a sétima arte, apaixonando todos os amantes de cinema.
O cinema é a mais magnífica e deslumbrante criação humana. É a materialização dos sonhos. É, por excelência, a arte em que tudo é possível, em que tudo acontece. É tão próximo da vida, que só pode ser magia. Esta obra é sobre isso, sobre o imenso poder do cinema e a sua inegável ligação à capacidade de sonhar, de imaginar, de criar.
É o refúgio onde nos abandonamos enquanto a magia acontece.

"Come dream with me."

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

What We Think We Become


"Watch you thoughts for they become your words. Watch your words for they become your actions. Watch your actions for they become... habits. Watch your habits for they become your character. And watch your character for it becomes your destiny! What we think we become."
Margaret Tatcher (Meryl Streep) - The Iron Lady


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

I Used To Talk To You All The Time


"I used to make long speeches to you after you left. I used to talk to you all the time, even though I was alone. I walked around for months talking to you. Now I don't know what to say. It was easier when I just imagined you. I even imagined you talking back to me. We'd have long conversations, the two of us. It was almost like you were there. I could hear you, I could see you, smell you. I could hear your voice. Sometimes your voice would wake me up. It would wake me up in the middle of the night, just like you were in the room with me. Then... it slowly faded. I couldn't picture you anymore. I tried to talk out loud to you like I used to, but there was nothing there. I couldn't hear you. Then... I just gave it up. Everything stopped. You just... disappeared. And now I'm working here. I hear your voice all the time. Every man has your voice."
Jane Henderson (Natacha Kinski) - Paris Texas

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Tinker Tailor Soldier Spy


Embora não esteja familiarizada com a obra literária de John Le Carré, estou bem relacionada com a obra cinematográfica a que deu origem e devo dizer que é raro desiludirem.
Os filmes podem não ser geniais, mas a história é sempre bastante entusiasmante.
Este A Toupeira não é excepção. A trama prende, mas é preciso estar atento para acompanhar devidamente a história, que se pode tornar algo confusa se não se prestar atenção.
Carregado de magníficos actores, nomeadamente Gary Oldman, em mais uma interpretação brilhante, este filme é imprescindível para os amantes de espionagem e duma boa intriga.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Cinema e O Sentido Da Vida



Porque estamos aqui? Qual o objectivo de tudo? O que é a morte?
Apenas algumas questões que perturbam o ser humano, embora as tentemos esconder no fundo duma rotina diária ou duma existência controlada (nonsense ou imprescindível para não endoidecermos?).
Esta era a temática base dos filmes desse génio cinematográfico de nome Ingmar Bergman.
Morangos Silvestres e O Sétimo Selo são duma genialidade imensa. Ambos atravessam os "porquês" do universo humano. O sentido do todo e de tudo isto.
Penso que essa é, acima de tudo, a questão que reside: porquê? À semelhança dos temas fundamentais do meu queridíssimo Dostoievski, também este realizador se debruça sobre a fé ou o sentido de tudo. Sobre se vale ou não a pena permanecer numa existência que não se escolheu e se vale ou não a pena oferecer essa existência a um novo ser.
Bergman tem ainda uma outra característica (tão sua) de (nos) levar de volta à infância. A infância como representante duma inocência, em que a nossa visão está condicionada pelo nosso próprio pensamento. A infância (ou inocência?) como sinónimo de alegria, conforto, dias solarengos e até mesmo da própria felicidade. A eterna luz e o acolhedor sol que só a juventude dá. Será por isso que se gosta tanto de voltar à infância? Será por isso que nos recordamos tão nitidamente de determinados e poderosos pormenores de cada momento marcante (os pormenores…sempre os pormenores)? Será por isso que nos sentimos tão bem com quem nos transmite (mesmo que ilusoriamente – porque o que vemos depende apenas e tão só de nós mesmos -) essa certa luz, como se regressássemos à infância ou (mais precisamente) a uma inocência perdida?

 "Quando era pequeno - muito pequeno, talvez oito ou nove anos - lembro-me de estar deitado na banheira, em casa dos meus pais, a ler um livro de quadradinhos. Era uma aventura do David Crockett, o desbravador do Kentucky e do Tenessee, que haveria de morrer na mítica batalha do Forte Álamo. Nessa história, o David Crockett era emboscado por um grupo de índios, levava com um machado na cabeça, ficava inconsciente e era levado prisioneiro para o acampamento índio. Aí, dentro de uma tenda, havia uma índia muito bonita - uma «skaw», na literatura do Far-West - que cuidava dele, dia e noite, molhando-lhe a testa com água, tratando das suas feridas e vigiando o seu coma. E, a certa altura, ela murmurava para o seu prostrado e inconsciente guerreiro: «não te deixarei morrer, David Crockett!»
Não sei porquê, esta frase e esta cena viajaram comigo para sempre, quase obsessivamente. Durante muito tempo, preservei-as à luz do seu significado mais óbvio: eu era o David Crockett, que queria correr mundo e riscos, viver aventuras e desvendar Tenessees. Iria, fatalmente, sofrer, levar pancada e ficar, por vezes, inconsciente. Mas ao meu lado haveria sempre uma índia, que vigiaria o meu sono e cuidaria das minhas feridas, que me passaria a mão pela testa quando eu estivesse adormecido e me diria: «não te deixarei morrer, David Crockett!» E, só por isso, eu sobreviveria a todos os combates.
Banal, elementar.
Porém, mais tarde, comecei a compreender mais coisas sobre as emboscadas, os combates e o comportamento das índias perante os guerreiros inconscientes. Foi aí que percebi que toda a minha interpretação daquela cena estava errada: o David Crockett representava sim a minha infância, a minha crença de criança numa vida de aventuras, de descobertas, de riscos e de encontros. Mas mais, muito mais do que isso: uma espécie de pureza inicial, um excesso de sentimentos e de sensibilidade, a ingenuidade e a fé, a hipótese fantástica da felicidade para sempre. Esse era o mundo que eu tinha entrevisto nesse dia longínquo da minha infância e que me cabia tentar defender o resto da minha vida. Então, eu era antes a índia, que não podia deixar que se apagasse essa imagem e o seu sentido e que teria de repetir incontáveis vezes ao mais fundo de mim mesmo - lá onde jazia, inconsciente, o David Crockett - que não o deixaria morrer."

Miguel Sousa Tavares

Nós podemos abafar todas as dúvidas existenciais ao longo duma existência sem tempo, mas elas nunca deixarão de existir.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

J. Edgar


Antes de mais nunca fui da opinião de que Leonardo DiCaprio era mais um menino bonito (primeiro, porque à data (estamos a falar especificamente de Romeo and Juliet e Titanic) não achava que tivesse os atributos que as mulheres tanto lhe atribuíam; segundo porque ao contrário da maioria dos que diziam essas baboseiras eu tinha visto os filmes anteriores do rapaz, já então demonstrativos do seu enorme talento (nomeadamente What's Eating Gilbert Grape (este também com uma excelente prestação dum jovem Johnny Depp), The Basketball Diaries e, claro, Total Eclipse, no qual interpeta esse poeta mítico de nome Rimbaud)).

Segundo ponto: Eastwood é um dos melhores realizadores actuais e é raro (eu diria até nunca) trazer uma obra que desiluda. Os filmes deste mestre cinematográfico são sempre duma qualidade inegável e duma grandiosidade latente.

Portanto, com um cabeça de cartaz desta envergadura e um realizador deste nível, J. Edgar só podia ser o filme brilhante que é.

Para além de DiCaprio, o elenco possui aquela que é a par de Meryl Streep e Helen Mirren, uma das melhores actrizes no activo: Dame Judi Dench, que interpreta a afável e inquebrantável mãe de Edgar.
Temos também outro enorme talento, uma das melhores actrizes da sua geração: Naomi Watts, como fiel secretária de Hoover (e o que seria destes homens poderosos sem a sua leal servente?).
Temos ainda, um dos apetitosos gémeos de The Social Network: Armie Hammer, como o companheiro de vida de Hoover, o número 2 do FBI, para além de outros talentosos actores que desfilam as mais diversas e célebres personagens da história norte-americana.

Goste-se ou não de Hoover, fosse ou não mesquinho, o que é certo é que Hoover ajudou a criar o sistema de investigação como o conhecemos hoje e foi um dos principais impulsionadores da base científica como trunfo das autoridades. Para além disso, teve a audácia e a visão de o fazer numa época em que os crimininosos eram heróis e os inovadores eram de desconfiar. Estas razões são suficientes para tornar Hoover um homem admirável.
Mas admiráveis ou não, todos somos humanos, e, como tal, todos temos defeitos.
Em My Week With Marylin referi que é difícil associarmos sentimentos humanos a pessoas que vemos como deuses, pessoas que admiramos, pessoas que parecem estar acima de qualquer falha. Apesar de Hoover ser o primeiro a tentar cultivar esse culto, estava longe de ser perfeito, como o filme demonstra à medida que vai decorrendo. E era demasiado humano, para alguma vez ter sido idolatrado de forma tão veemente como as estrelas de cinema.

Hoover foi um homem corajoso com uma enorme paixão pela investigação, que encontrou no amor a sua grande força. Primeiro no amor materno, mais tarde no amor romântico. E, foi nesse amor, que Edgar se apoiou para fazer face a épocas tão diversas, criminosos tão sofisticados e inimigos tão improváveis, como ele próprio.

DiCaprio tem aqui mais uma interpretação notável e nem mesmo as lentes de contacto castanhas escondem a expressividade daquele olhar.
Eastwood dirige de forma perfeita aquele que é um dos melhores filmes do ano.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

The Artist


Este é um daqueles filmes que entrou de imediato para a minha top list (aquele espacinho infinito onde cabem sempre mais).
Se eu fosse um dos membros da Academia estaria com sérias dificuldades em decidir-me entre este genial The Artist e esse magnífico The Tree Of Life. Dois filmes bem distintos, mas igualmente geniais.

The Artist é primeiro e, acima de tudo, uma homenagem ao cinema. A sétima arte é uma das mais vastas e ricas invenções do Homem. O cinema tal como o conhecemos hoje, nem sempre assim foi. Até ao deslumbramento pela tecnologia houve longos passos na história, o som e a cor, dados adquiridos hoje em dia, não nasceram com o cinema. Surgiram mais tarde, enriquecendo e enaltecendo essa arte de deuses.
Usei os verbos enriquecer e enaltecer, mas nem por isso o cinema era mais pobre durante a época do mudo. Um dos mais interessantes filmes que vi chama-se A Boceta De Pandora de Pabst, com uma deslumbrante Louise Brooks e é nada mais nada menos do que um fascinante filme. É mudo: sim! Mas não deixa de ser uma obra grandiosa que ultrapassa em larga escala muitos filmes coloridos e bem sonoros.
Este The Artist é uma lufada de ar fresco na habitual oferta das salas. Temos tido filmes bastante bons: é certo; mas The Artist é um adorável e invulgar trabalho que deixa qualquer um sorridente. É uma experiência de magia, na qual se vive o cinema em todo o seu esplendor.
A música, um dos veículos mais poderosos de sempre, é explorada de forma genial.
Os actores (suspiro)... O que se pode dizer de pessoas tão expressivas e talentosas que parecem ter nascido para a arte de representar? Qualquer um dos papéis assenta que nem uma luva aos respectivos artistas.
E a história, bom, a história é duma singularidade ímpar. À semelhança de Crepúsculo dos Deuses também este filme se debruça sobre a viragem duma época no mundo da sétima arte, bem como os consequentes impactos nas vidas dos que davam/dão vida a essa mesma arte. 
E, claro, o amor! O amor como veículo único de redenção/salvação. 
Se há eternidade essa existe no amor.
E se há maneira de a captar por um instante, o cinema existe para isso mesmo.
Genial!!!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Milk


"My name is Harvey Milk and I am here to recruit you."
Começavam assim os discursos de Milk, esse ser inspirador e admirável no qual se basearam para dar vida a esta grande obra.
Milk falava com uma enorme paixão. Uma paixão da alma que passava para palavras inflamadas. Tantas vezes tão incompreendidas ou mal interpretadas, porque a paixão é vulgarmente confundida com radicalismo, insensatez ou até mesmo inocência. Falar o que nos vai na alma, sem medos nem pudores, só pode ser acto de criança. Porque o silêncio é de ouro e os sensatos permanecem em silêncio.

Sean Penn está perfeito no papel e demonstra, mais uma vez, a grandiosidade do talento que possui.
James Franco tem também uma belíssima interpretação, tal como Emile Hirch (sim: o mesmo actor de Into The Wild está irreconhecível neste filme) e Josh Brolin.

Milk é uma obra terna e verdadeira, desse mestre do real que é Gus Van Sant.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Brides Maids


Quem gostar de comédias ligeiras algo nonsense gostará certamente deste BridesMaids.
Com travos de humor de gosto duvidoso e sistematicamente politicamente incorrecto, BridesMaids é o típico filme de serão ligeiro ou domingo à tarde.
O filme, como o próprio nome indica, é sobre um grupo de mulheres que se reunem para organizar a despedida de solteira duma delas. À medida que a história se vai desenvolvendo vão acontecendo todo o tipo de situações caricatas e algo burlescas.
Qualquer uma das actrizes está perfeita no papel que lhe coube.

Um dos momentos mais esperados da vida das pessoas, no qual são depositados tantos sonhos, expectativas e esperanças. O começar de algo novo, como se se virasse a página e se pudesse iniciar um livro em branco. O ritual habitual de festas e recepções como dita a sociedade. Por tudo o que esse momento representa, os meses antes são vividos com grandes euforias e angústias. A ideia de que tudo tem de ser perfeito e a pressão para tal podem arrasar muitos destes preparativos que se queriam divertidos e singelos. Este filme é, sobretudo, sobre isso. Sobre o que está e o que não está nas nossas mãos fazer, sobre o estado de espírito que escolhemos ter face a determinadas situações e sobre o valor que atribuímos a toda a festa e o que lhe está associado.

Um filme que casa com domingos à tarde ou serões descontraídos no sofá.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Moneyball


Apesar de Moneyball retratar uma inspiradora história verídica (Billy Beane, treinador dos Oakland Athletics constitui com a ajuda do economista Peter Brand uma equipa teoricamente perfeita constituída por jogadores subvalorizados, quando é confrontado com as sucessivas saídas dos melhores jogadores para clubes mais atractivos), o filme acaba por ficar um pouco aquém das expectativas.
O filme é intercalado por imagens dos jogos principais, ao longo dos momentos chave da história. No entanto, o basebol não desperta a mesma vaga de paixões que do outro lado do Atlântico e essa parece-me ser a principal razão pela qual o filme não se torna arrebatador.
Brad Pitt tem uma excelente prestação ao nível do que nos tem habituado (embora já tenha tido papéis muito mais exigentes e consequentemente demonstrativos do seu talento).
Moneyball é, no fundo, sobre a fé. Sobre acreditar que podemos aquilo que queremos. Que os sonhos são mesmo possíveis e apenas dependem de nós. O que custa é dar aquele salto de fé, apesar de todas as crenças ou expectativas dos que nos rodeiam.
Billy Bean deu esse passo e é, por isso, uma pessoa admirável com uma história cinematográfica para contar e encantar.
 
"Faith is taking the first step even when you don't see the whole staircase."
Martin Luther King
 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Never Understand The Truth


"Even if a husband lives 200 hundred fucking years, he'll never discover his wife's true nature. I may be able to understand the secrets of the universe, but... I'll never understand the truth about you. Never."
Paul (Marlon Brando) - Il Ultimo Tango A Parigi