Los Amantes Pasajeros

Como fã incondicional de Almodovar, não podia deixar de ir ver o seu mais recente filme.

Los Amantes Pasajeros relembra-nos o Almodovar de há 20 anos, antes de enveredar de forma mais sistemática (e brilhante) pelo melodrama. Depois dum título tão genial, como pesado de nome La Piel Que Habito, Almodovar traz-nos uma comédia desconcertante e nonsense, ao velho estilo do que fazia. Muitos dirão que tenta repetir a fórmula que o celebrizou e destacava. De facto, não inova, mas o universo onde se move é tão rocambolesco que é sempre uma agradável experiência revisitá-lo.

Los Amantes Pasajeros está carregado de situações tão ridículas como divertidas: uma lufada de ar fesco.

Os actores, como habitualmente, estão perfeitos. Almodovar tem uma capacidade incrível de retirar o melhor do seu elenco e de conseguir que todos sejam extraordinariamente atraentes ou bem parecidos perante as câmaras. Mesmo personagens que se querem feias, têm sempre no cinema de Almodovar uma certa beleza intrínseca, possivelmente ligada ao realismo e amor com que são filmados. Essa característica é mais notória nas actrizes com que trabalha recorrentemente. Lola Duenas como não podia deixar de ser e, neste caso, Cecilia Roth (tão diferente (e igualmente genial) de Tudo Sobre Mi Madre) e Blanca Suarez (também irreconhecível da Normita de La Piel Que Habito). 

As mulheres são as grandes protagonistas dos filmes de Almodovar, personagens fortes, complexas, carregadas dum erotismo latente e duma enorme carga dramática. Grandes contradições, uma capacidade de passar do choro ao riso, da lucidez à loucura, da inteligência à estupidez de forma profundamente emergente. 

Almodovar é um homem de mulheres e não é a toa que os seus personagens masculinos são tão efeminados, e mesmo quando são grandes machões há sempre algo de frágil intrínseco.

As interpretações dos actores almodovarianos emanam uma energia inspiradora.

Los Amantes Pasajeros é uma comédia ligeira e obscena que divertirá os espíritos abertos.