sábado, 30 de novembro de 2013

Gravity


Who are we? What are we?
Ao longo dos tempos que o Homem tem-se debatido com estas questões.
Será o espaço a última fronteira que nos faz perceber o que somos e as implicações desse confronto?

Gravity debruça-se indirectamente sobre esses temas (como aliás qualquer filme de valor que se passe no espaço). 

Alfonso Cuarón criou aqui uma experiência muito interessante com imagens estarrecedoras e sons perfeitamente credíveis.

Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney) tentam sobreviver a um acidente espacial.
As sequências de dissolução de matéria são estonteantes e levam-nos ao encontro da nossa pequenez:

“If you imagine the 4,500-bilion-odd years of Earth's history compressed into a normal earthly day, then life begins very early, about 4 A.M., with the rise of the first simple, single-celled organisms, but then advances no further for the next sixteen hours. Not until almost 8:30 in the evening, with the day five-sixths over, has Earth anything to show the universe but a restless skin of microbes. Then, finally, the first sea plants appear, followed twenty minutes later by the first jellyfish and the enigmatic Ediacaran fauna first seen by Reginald Sprigg in Australia. At 9:04 P.M. trilobites swim onto the scene, followed more or less immediately by the shapely creatures of the Burgess Shale. Just before 10 P.M. plants begin to pop up on the land. Soon after, with less than two hours left in the day, the first land creatures follow. 

Thanks to ten minutes or so of balmy weather, by 10:24 the Earth is covered in the great carboniferous forests whose residues give us all our coal, and the first winged insects are evident. Dinosaurs plod onto the scene just before 11 P.M. and hold sway for about three-quarters of an hour. At twenty-one minutes to midnight they vanish and the age of mammals begins. Humans emerge one minute and seventeen seconds before midnight. The whole of our recorded history, on this scale, would be no more than a few seconds, a single human lifetime barely an instant. Throughout this greatly speeded-up day continents slide about and bang together at a clip that seems positively reckless. Mountains rise and melt away, ocean basins come and go, ice sheets advance and withdraw. And throughout the whole, about three times every minute, somewhere on the planet there is a flash-bulb pop of light marking the impact of a Manson-sized meteor or one even larger. It's a wonder that anything at all can survive in such a pummeled and unsettled environment. In fact, not many things do for long.” 

Bill Bryson in A Short History About Nearly Everything


Somos matéria. Matéria. A densidade da matéria distingue-a. Mas não deixamos de ser matéria. Somos partículas ou como Feynman brilhantemente colocou a questão:

"I, a universe of atoms, an atom in the universe."

E falando de física, pareceu-me que o filme tem alguns momentos inverosímeis em termos de realismo. Muitas coisas lhe retiram a credibilidade, mas esquecendo as possibilidades físicas, mesmo a nível emocional o filme parece algo insípido. É certo que as emoções são imprevisíveis, sobretudo quando confrontados com situações extremas, no entanto a maneira como somos guiados através da espiral de emoções capta totalmente a nossa atenção, mas ao mesmo tempo não nos convence totalmente. Talvez porque as cenas de grande tensão são (demasiado) rapidamente substituídas por cenas duma paz aparente ou total. Uma alternância entre acção e contemplação demasiado violenta. Talvez esse ponto seja justamente o que o realizador pretendia e talvez esse desconforto que o espectador possa sentir, descrito neste parágrafo, seja justamente o que se pretende oferecer. E, nesse caso, implementando um certo realismo. O que vem contradizer o que foi exprimido anteriormente. Portanto, é um filme que nos deixa uma sensação contraditória, talvez justamente por oscilarmos entre emoção e pensamento.

À boa maneira cinematográfica, o enaltecimento do herói, neste caso, o ser humano é uma certeza no final do filme.

Sandra Bullock está brilhante, uma actriz notável, num papel difícil, mas ao qual consegue - apesar de tudo - conferir bastante credibilidade.
George Clooney igual a si próprio, ou seja, o engraçadinho charmoso que nada mais é do que uma extensão da sua personalidade, demonstrando mais uma vez que as suas capacidades como actor são limitadas.

Momento de cinema deslumbrante (para além de todas as sequências do planeta Terra, sobretudo quando o Sol parece espreitar e piscar-nos o olho): posição de feto com

A Drª Stone irá perceber que no espaço pode não haver nada a não ser (o adorado) silêncio e são as pequenas coisas que tornam o ser humano único e complexo, são as pequenas coisas como o palrar dum bebé ou escutar um cão a ladrar que podem ajudar a aceitar. E com base na aceitação fazer as escolhas que parecem mais acertadas.

Aceitação essa brilhantemente ilustrada em The Tree Of Life, também com belas imagens espaciais como pano de fundo.
Apesar de ser uma comparação ingrata, The Tree Of Life leva-nos mais fundo quer nos meandros emocionais, quer (em última instância) nos meandros do universo.

Gravity é um filme muito original, com imagens inovadoras e nunca vistas. Mas dá a sensação que o filme foi criado sobretudo por essa experiência: o espaço, a Terra, o Sol, as naves, a matéria a dissolver-se, a ausência de gravidade, o comportamento da matéria. E não tanto pela experiência de criarmos um ponto de ligação com a Drª Stone e nos debruçarmos sobre as questões que o filme pretendia tocar.

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