segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Crossing Over


Quando vi este filme fiquei chocada.

Nunca tinha pensado verdadeiramente nisso, mas o local onde nascemos é o grande definidor daquilo que somos. Isto é ainda mais forte e real se nascermos sob o sexo feminino. Nascer no Canadá ou no Irão, nascer na Noruega ou no Ruanda; é quase tão definidor do que nos tornamos como os genes. Não interessa se somos ricos ou pobres, esforçados ou preguiçosos, o local onde nascemos define-nos de forma indelével, tal como o meio ambiente e as pessoas que nos rodeiam. Define as chances que temos e condiciona a vida que levamos. Nós não somos assim porque somos assim, ou porque os nossos pais isto e aquilo; nós somos assim porque nascemos aqui, tal como os nossos pais e foram estas as condições/crenças com que nos vimos confrontados ao longo de todo o crescimento.

Crossing Over é um filme que se debruça sobre essa aleatoriedade de nascer no local certo ou errado ou de estar (ou querer estar) num determinado local (certo ou errado?). Respescando o filme anterior, a cor da pele era tão decisiva há um século e meio numa determinada região dos Estados Unidos da América, como é hoje o facto de ser homem ou mulher no Médio Oriente.
O facto de se ser mexicano ou americano pode acarretar uma diferença brutal no que a fronteiras diz respeito (a este propósito temos também um filme incrível de nome Babel). Em Crossing Over são analisadas diversas situações desse tipo, tudo no que concerne a território americano. Na luta por uma vida melhor (ou em alguns casos até mesmo pela vida) o território onde a batalha acontece pode ser a diferença entre viver ou morrer ou a diferença entre ter de travar essa luta ou simplesmente ter nascido com esse facto e nem dele se dar conta. Este filme torna-nos mais consciente desse factor decisivo. Torna-nos também mais conscientes da fragilidade dos que "invadem" um outro país e da enorme dificuldade que há em tratar estas pessoas como seres humanos iguais (há sempre uma certa complacência ou uma certa superioridade em quem deixa entrar, bondade essa recorrentemente recordada e cobrada) - e recordo-me a este propósito de Dogville.

Crossing Over acompanha diversas pessoas em situações limite ligadas a emigração/imigração. Tem um elenco de luxo, com interpretações muito fortes, nomeadamente Ray Liotta, que marca com a sua personagem nojenta.

Um filme pesado, mas imperdível.

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