terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O Futuro Parecia Um Conceito


"Mas sempre que me encontrava nos seus braços, o futuro parecia um conceito vago e estúpido."
Ventura (Henrique Espírito Santo) - Tabu

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Undisputed Crown Prince em A Dangerous Method

Killing Them Softly


Killing Them Softly não é um filme suave.
Brad Pitt interpreta o assassino que gosta de matar suavemente, ou, por outras palavras, que não gosta de conflitos ou confrontos e prefere apanhar as vítimas desprevenidas.

A ideia subjacente ao filme vai de encontro ao individualismo que impera nas sociedades actuais.
A maior lei é o dinheiro. E, nessa medida, é cada um por si. Numa sociedade consumista e profundamente capitalista, o dinheiro é o único rei, que impera de forma aleatória e desapiedada. E, se o dinheiro é rei, as coisas passam a ter mais valor do que as pessoas, o ter sobrepõe-se ao ser. E nesse frenesim de ter mais, nessa ânsia de açambarcar, outras coisas vão ficando esquecidas, até desaparecerem por completo.
Outra questão abordada é a necessidade intrínseca que temos de contar o que fizemos, o que somos, o que alcançamos. Espelho duma sociedade de televisões e "big brothers", em que tem de haver sempre uma audiência para cada um dos nossos passos. Esquecemos que o silêncio é de ouro.

Apesar de haver momentos muito bem conseguidos (sequência do assalto), o filme tem um ritmo fraco e alonga-se demasiado em cenas que não têm grande interesse, nem fazem muito sentido no filme, retirando inclusivamente sentido ao filme e tornando-o maçador. Nem mesmo as prestações de qualidade, nomeadamente no caso de Brad Pitt (sempre muito competente em qualquer papel, um dos mais versáteis actores da actualidade) salvam o filme.

Killing Them Softly tem ideias interessantes, mas não passa duma enorme e maçadora sequência de cenas.

Flight


O cinema de Robert Zemeckis tem sempre algo de negro, nomeadamente o humor. Apesar das histórias poderem começar com o lado menos brilhante da vida, tendencialmente terminam com o nascer duma nova esperança ou a reabilitação do indíviduo.
Flight é um filme algo negro, mas não demasiado. O humor acompanha todo o filme e o final não é excepção à linha de Zemeckis.

Flight é um filme sobre um piloto que se sente sozinho e bebe. E por beber acaba por se sentir mais sozinho. Tudo começa com o que seria um simples voo de pouco mais de uma hora. Algo corre mal a meio e o avião começa a desfazer-se, sendo o sangue frio do piloto determinante para evitar um final totalmente trágico. Esta sequência é brilhante. O protagonista em questão é Denzel Washington (e excepção feita a Mary Reilly e ao curioso e inesperado doente de cancro) rouba todas as cenas do filme com a sua interpretação segura e convincente.

A música é um dos pontos fortes deste filme, caracterizando cenas ou personagens de forma perfeita.
Flight não é um grande filme. Tem momentos interessantes e cenas muito bem conseguidas, alternadas com momentos que se arrastam e cenas menos apelativas.
Mesmo assim é uma obra curiosa que poderá valer a pena espreitar.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Crossing Over


Quando vi este filme fiquei chocada.

Nunca tinha pensado verdadeiramente nisso, mas o local onde nascemos é o grande definidor daquilo que somos. Isto é ainda mais forte e real se nascermos sob o sexo feminino. Nascer no Canadá ou no Irão, nascer na Noruega ou no Ruanda; é quase tão definidor do que nos tornamos como os genes. Não interessa se somos ricos ou pobres, esforçados ou preguiçosos, o local onde nascemos define-nos de forma indelével, tal como o meio ambiente e as pessoas que nos rodeiam. Define as chances que temos e condiciona a vida que levamos. Nós não somos assim porque somos assim, ou porque os nossos pais isto e aquilo; nós somos assim porque nascemos aqui, tal como os nossos pais e foram estas as condições/crenças com que nos vimos confrontados ao longo de todo o crescimento.

Crossing Over é um filme que se debruça sobre essa aleatoriedade de nascer no local certo ou errado ou de estar (ou querer estar) num determinado local (certo ou errado?). Respescando o filme anterior, a cor da pele era tão decisiva há um século e meio numa determinada região dos Estados Unidos da América, como é hoje o facto de ser homem ou mulher no Médio Oriente.
O facto de se ser mexicano ou americano pode acarretar uma diferença brutal no que a fronteiras diz respeito (a este propósito temos também um filme incrível de nome Babel). Em Crossing Over são analisadas diversas situações desse tipo, tudo no que concerne a território americano. Na luta por uma vida melhor (ou em alguns casos até mesmo pela vida) o território onde a batalha acontece pode ser a diferença entre viver ou morrer ou a diferença entre ter de travar essa luta ou simplesmente ter nascido com esse facto e nem dele se dar conta. Este filme torna-nos mais consciente desse factor decisivo. Torna-nos também mais conscientes da fragilidade dos que "invadem" um outro país e da enorme dificuldade que há em tratar estas pessoas como seres humanos iguais (há sempre uma certa complacência ou uma certa superioridade em quem deixa entrar, bondade essa recorrentemente recordada e cobrada) - e recordo-me a este propósito de Dogville.

Crossing Over acompanha diversas pessoas em situações limite ligadas a emigração/imigração. Tem um elenco de luxo, com interpretações muito fortes, nomeadamente Ray Liotta, que marca com a sua personagem nojenta.

Um filme pesado, mas imperdível.