A inocência perdida é irrecuperável.
Um dos mais belos registos deste facto irrefutável da vida é o filme dirigido brilhantemente por Sofia Coppola, numa estreia como realizadora que ficou para a história. Depois desta obra, pode-se dizer que o cinema ficou mais rico. Num registo delicado, mas incisivo, Sofia filma a vida de cinco irmãs que percebem demasiado cedo as desesperantes verdades da vida.
É magnífica a sequência da menina de treze anos na cama de hospital, duma lucidez aterradora – clarividência essa que costuma vir com a idade.
O desespero dos pais está lá – dissimulado -, mas está lá, existe, é real. Nos silêncios e trocas de olhar. Na maneira de viver um quotidiano que se repete até à exaustão.
Existem momentos de referência no filme.
Recordo a belíssima sequência em que as irmãs abraçam a árvore, deixando-a à mercê do seu destino, no momento em que a determinação é invadida pela câmara, os olhos do mundo a espiarem o que por ali se passa…
Recordo também que se trata dum universo profundamente feminino de pequenos tudo-nada, de cumplicidade entre meninas-mulher, duma maneira desencantada de olhar, que só os desse clube compreendem.
É revelador que esta história de desencanto seja contada pela voz masculina dum voyeur. O rapaz-homem marcado pelo mundo feminino da janela em frente.
As imagens finais são cortantes na sua claustrofóbica e insuportável verdade.
A juventude e a inocência perdem-se com o tempo, que vai varrendo tudo no seu acutilante e incessante movimento. Esta é a certeza última, que tem apenas um remédio (ou terá mais, conforme tenta explorar Lux?).